São muitas as invenções de autoria duvidosa
Pergunta quase desnecessária: quem foi o inventor da lâmpada? Nove entre dez pessoas – é claro – responderiam sem pensar: o americano Thomas Alva Edison.
Só que não. Há tempos quem é enfronhado no assunto “invenções e novas tecnologias” sabe que Thomas Edison foi um dos maiores vigaristas do final do século 19 e início do século 20, e que a lâmpada não foi uma criação dele.
De fato, a lâmpada elétrica foi criada em 1809 por Sir Humphrey Davy e aperfeiçoada por Lewis Howard Latimer com um filamento de carbono resistente. Em 1844, uma luz elétrica ainda mais confiável foi desenvolvida por Jean Foucault. A patente de Edison foi registrada apenas em 1880.
Não foi o único caso de apropriação indébita comprovadamente feita por ele, quase sempre se aproveitando das enormes brechas e ambiguidades absurdas que então existiam na legislação americana.
Os primeiros filmes foram criados, por exemplo, pelo pintor franco-americano Luis Le Prince em 1888. Le Prince desapareceu em 1890 após embarcar em um trem com seus documentos de patente.
Conhecedor do invento, Edison fez seu primeiro filme em 1891. O seu progresso nesta área foi tão grande que ele estabeleceu o primeiro truste cinematográfico da América do Norte, controlando a indústria cinematográfica por mais de 20 anos.
O primeiro dispositivo de gravação de som foi criado em 1859 por Édouard-Léon Scott de Martinville. O dispositivo de gravação de Edison apareceu em 1877.
Já a bateria foi inventada por Alessandro Volta em 1803. Edison roubou o monopólio usando a seu favor as leis americanas. Em 1899, o inventor sueco Waldemar Junger finalmente inventaria uma bateria moderna. Edison patenteou sua bateria nos Estados Unidos em 1901. E há muitos, muitos outros exemplos.
Na verdade, Thomas Edison era mais um empresário do que um inventor. Passava grande parte de seu tempo fuçando ideias de outras pessoas e, quando via uma chance, roubava-as sem medo de responder a processos, que, aliás, invariavelmente ganhava, embora nem sempre com facilidade.
De fato, entrou para os anais sua feroz guerra judicial contra Nikola Tesla, na qual ele chegou a eletrocutar um elefante, na tentativa de mostrar o quão perigoso era um motor desenvolvido pelo genial cientista e inventor sérvio. Ou seja, Thomas Alva Edison estava longe de ser inventor à maneira de Leonardo da Vinci. Não passava mesmo de um grande estelionatário.
ATÉ GALILEU – Diga-se que Thomas Edison é apenas o exemplo mais notório de um inventor que entrou para a história no lugar de outro. Há vários casos ao longo dos séculos. Como o do próprio Galileu Galilei. A esse astrônomo, físico e médico italiano, que viveu entre 1564 e 1642, é universalmente atribuída a invenção do telescópio.
Só que há um grave erro aí: o verdadeiro inventor foi o holandês Hans Lippershey, que em 1608construiu o primeiro telescópio e tentou patenteá-lo, mas não se sabe bem a razão, a patente foi recusada.
Galileu soube do imbróglio e foi atrás do trabalho de Lippershey, criando rapidamente seu próprio telescópio, em 1609, praticamente igual ao do holandês. Talvez para não entrar em encrenca, Galileu nunca fez questão de patentear seu telescópio. Mas é nele que as pessoas pensam quando o assunto é a origem desse seminal equipamento da astronomia.
O telefone é outra invenção atribuída à pessoa errada – neste caso, Alexander Graham Bell. A história é um tanto rocambolesca. Em 1860, o italiano Antonio Meucci fez uma demonstração do primeiro telefone funcional da história, batizado por ele de “teletrofono”.
Meucci só obteve uma patente – temporária – para a sua invenção em 1871, que não conseguiu renovar em 1874, por não dispor dos US$ 10 necessários para isto (ele era extremamente pobre e estava doente).
Então, dois anos depois, Bell patentearia o mesmo invento. Naturalmente, Meucci abriu um processo contra ele, tentando usar os registros dos projetos e desenhos originais que ele havia enviado para um laboratório da empresa Western Union – onde Bell então trabalhava. Mas aí era tarde demais: os registros, estranhamente, tinham desaparecido. Já Sir Alexander Fleming é o nome do cientista invariavelmente ligado à penicilina, que ele teria descoberto em 1928, a partir da manipulação de um fungo que se mostraria um poderoso antibiótico, com o qual teria inclusive curado uma grave pneumonia de Winston Churchill.
No entanto, não foi Fleming quem a descobriu. Em 1897, Ernest Duchesne já usara o tal fungo para curar uma febre tifoide em seu porquinho da índia, prova de que ele estava sabendo o que a penicilina podia fazer. E alguns nativos de tribos do norte da África já vinham usando este fungo havia milhares de anos.
A descoberta de Duchesne não foi levada a sério pelos seus colegas cientistas, e ele nunca conseguiu patenteá-la, morrendo dez anos depois de uma doença que, ironicamente, poderia ter sido tratada com penicilina.
Nem o próprio Fleming, mesmo depois de ter supostamente descoberto a substância, achava que ela poderia ser usada para efeitos curativos. Esta tarefa coube aos cientistas Howard Florey, Norman Heatley, Andrew Moyer e Ernst Chain, que começaram a trabalhar com a penicilina até a dominarem, desenvolvê-la e descobrir uma maneira de produzi-la em massa para salvar vidas.
EINSTEIN – Aliás, nem mesmo Albert Einstein, tido como o maior cientista do século 20, foi o único “inventor” da Teoria da Relatividade, glória que deveria ser compartilhada com seu colega Henry Poincaré.
Poincaré era o maior especialista em relatividade no final do século 19, e muito provavelmente a primeira pessoa a apresentar formalmente a teoria.
De acordo com o livro de Peter Galison, “O Relógio de Einstein, o Mapa de Poincaré: Impérios do Tempo”, Einstein e um grupo de amigos formaram o chamado The Olympia Academy, que se reunia regularmente para discutir seus trabalhos e o trabalho de outros cientistas. O livro menciona que Poincaré era um dos cientistas que Einstein e seu grupo mais discutiam.
O físico alemão depois publicaria um livro descrevendo uma teoria muito parecida com a Poincaré, mas sem citá-lo uma única vez. Para alguns comentaristas, forte indício de que Einstein temeu ser acusado de plágio.
Há até um brasileiro neste rol de inventores que tiveram seus inventos “roubados”: o padre Landell de Moura, que inventou o rádio – o religioso realizou a mais antiga transmissão de voz por ondas de rádio em 1899, em São Paulo, nada menos do que 23 anos antes da primeira transmissão oficial no Brasil, em 1922.
Landell registrou as patentes de transmissões por ondas de rádio e por feixes de luz nos Estados Unidos. No entanto, ao retornar ao Brasil, o padre teve seus pedidos por recursos negados pelo governo.
A falta de apoio para o desenvolvimento de suas tecnologias resultou no esquecimento do nome do religioso, que utilizava as ondas contínuas em suas transmissões, mas em sua viagem aos Estados Unidos recomendou a adoção de ondas curtas para aumentar as distâncias das transmissões.
De qualquer forma, seus experimentos serviram de referência para outros dispositivos de telecomunicação patenteados posteriormente nos EUA. (Alberto Mawakdiye).