Serviços de entrega seguram, em parte, o mercado brasileiro de motocicletas
A indústria brasileira de motocicletas foi, ao que tudo indica, um dos poucos setores da economia que conseguiram escapar, pelo menos em parte, dos efeitos perversos da nova pandemia do coronavírus.
De acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o setor registrou em julho-– quando a pandemia deu finalmente mostras de já ter passado pelo seu período mais agudo, que transcorreu em abril e maio – a produção de 97.920 unidades no Polo Industrial de Manaus (PIM).
O número correspondeu a uma alta de 25,3% na comparação com junho (78.130 unidades) e um crescimento de 6,8% ante o total do mesmo mês do ano passado (91.713 unidades). “Esses números foram um alívio, pois mostraram uma curva ascendente de produção, com recuperação gradativa dos volumes nas fábricas”, diz Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo.
De qualquer forma, no acumulado de janeiro a julho foram fabricadas 490.137 motocicletas, significando, percentualmente, uma redução de 22,1% na comparação com o mesmo período de 2019 (628.818 unidades).
A explicação para este desempenho até um tanto surpreendente do mercado de motocicletas está na própria dinâmica da pandemia. Como consequências da quarentena, que isolou milhões de pessoas em casa, restaurantes e outros tipos de estabelecimentos comerciais tiveram de recorrer ao delivery, serviço quase sempre executado por motoboys, para manter os negócios funcionando e minimizar os prejuízos.
De fato, aplicativos de entrega, como o iFood, registraram um aumento de mais de 30% no número de motoboys ainda em março, chegando a 170 mil entregadores inscritos na plataforma. Milhares de desempregados aproveitaram a oportunidade e compraram uma moto para participar deste “boom”. Em geral, motos de baixa cilindrada, de 100 cc a 250 cc, mais baratas e econômicas em termos de gastos com combustível e manutenção.
MOTOS “STREET” – Assim, não foi por acaso que as motos da categoria “Street” tenham sido as mais comercializadas neste período de pandemia – aliás, há anos que esta modalidade de motocicleta tem sido a mais vendida, devido à multiplicação de motoboys nas ruas da cidade, que não vem de hoje.
Em números absolutos, a “Street”, em julho, foi a categoria mais comercializada no atacado, com 50.393 unidades, aumento de 22,4% na comparação com junho (41.177 unidades) e de 12% em relação a julho do ano passado (45.009 unidades).
Na plataforma de classificados OLX, nas duas primeiras semanas de junho a procura por motocicletas – principalmente as desta categoria – aumentou 13% em relação ao mesmo período de março deste ano. Cresceu 43% também a procura por mochilas de motoboys.
De acordo com executivos da OLX, as motos ganharam destaque dentro da própria categoria de Autos. A participação da venda de motos chegou a 40% em abril, quando a média de meses anteriores ficava entre 30% e 33%.
Um dos modelos responsáveis por esse crescimento é a Honda CG, a mais buscada e vendida na plataforma desde 2018. A procura pela moto, uma das três mais recomendadas por empresas de delivery aos seus entregadores, aumentou cerca de 20% desde a semana de 13 de abril até meados de maio, se comparado ao mesmo período do ano passado.
Em 2020 foram vendidas, em média, 2 mil unidades do modelo CG 150 por semana na OLX. O volume de buscas da CG em relação às outras motos tem variado entre 20% e 24%, mas o share de vendas é ainda maior: 28%. (Texto: Alberto Mawakdiye/foto: Abraciclo/Divulgação)