Tecnologia baseada em IA apóia monitoramento e restauração florestal
A energia hidrelétrica continua sendo a principal fonte de eletricidade no Brasil, com 219 usinas de grande porte em operação, além de 425 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e 739 Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Apesar de seu papel estratégico, o setor enfrenta crescentes desafios relacionados à restauração e ao monitoramento ambiental de suas áreas de influência. É nesse contexto que a ciência brasileira tem se destacado com soluções inovadoras.
Uma dessas soluções vem do Lactec, um dos maiores centros de pesquisa, tecnologia e inovação do país. A instituição desenvolveu um sistema de monitoramento com inteligência artificial (IA) para apoiar a restauração florestal no entorno do reservatório da Usina Hidrelétrica de São Simão (MG/GO), operada pela Spic Brasil. O projeto, fruto do programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel (PD 11484-0013-2023), otimiza o trabalho de campo, reduz custos e permite decisões mais ágeis e seguras, reforçando a sustentabilidade na geração hidrelétrica.
Voltado à criação de uma plataforma inteligente para a gestão e monitoramento de áreas de reflorestamento, combina drones, sensores embarcados e algoritmos avançados. A proposta promove um manejo florestal inteligente, com planejamento mais eficiente, aumento de produtividade e melhor alocação de recursos – características fundamentais diante das exigências ambientais e das mudanças climáticas.
Esses avanços foram levados ao cenário internacional durante o International Conference on Advanced Remote Sensing – Shaping Sustainable Global Landscapes (Icars 2025), evento científico que reúne especialistas de todo o mundo em sensoriamento remoto e desenvolvimento sustentável. A pesquisadora Elizabete Peixoto, do Lactec, representou o Brasil com um trabalho selecionado entre apenas 107 aprovados – dos quais apenas 43 foram apresentados oralmente. “Fiquei muito feliz quando meu trabalho foi escolhido para a sessão oral. A sala estava cheia, com participação ativa, mesmo sendo a última apresentação na sexta-feira”, conta.
Na conferência, a pesquisadora destacou como o uso de satélites, drones e IA permite monitoramento contínuo de áreas remotas, reduzindo a necessidade de deslocamentos físicos e padronizando análises ambientais. “Embora ainda exija validação em campo, a tecnologia já automatiza grande parte dos processos. É uma ferramenta poderosa para restaurar ecossistemas de forma eficiente”, explica.
O projeto com a Spic Brasil se mostrou especialmente desafiador por estar localizado em uma área de transição entre biomas, o que dificulta a aplicação das normas ambientais. Ainda assim, a equipe conseguiu integrar diferentes tecnologias em um sistema modular, adaptável a diversos setores além do energético, como mineração e infraestrutura. A solução também tem potencial para contribuir com o cálculo de créditos de carbono, um dos caminhos promissores para a compensação ambiental.
Para Elizabete Peixoto, a participação no Icars 2025 reforçou o papel da ciência brasileira na vanguarda da sustentabilidade global. “A interdisciplinaridade é fundamental. Aliar computação, geociências e meio ambiente nos permite criar soluções replicáveis e com grande impacto”, afirma.