Uso de ferramentas de TI na mineração de lítio ajuda na preservação do meio ambiente

Quinto maior produtor de lítio do mundo, tendo atingido 4,9 mil t em 2023, o Brasil ainda não utiliza como poderia a monitoração preditiva da exploração deste metal, que vem se tornando cada vez mais estratégico e sendo usado em um número crescente de aplicações.
De fato, várias mineradoras ao redor do planeta já empregam ferramentas da Tecnologia da Informação, a TI, especialmente para propósitos ambientais, desde o projeto da mina até o descarte de rejeitos e a comercialização.
Um estudo da consultoria Mordor Intelligence mostrou que o mercado de soluções de conectividade e monitoração para a indústria global de mineração deverá chegar a US$ 24 bilhões em 2026.
De acordo com Luis Arís, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Paessler Latam, companhia especializada em soluções de monitoramento para empresas de todos os setores e tamanhos, é urgente a adesão do Brasil a estas ferramentas, devido ao crescimento exponencial das atividades em torno da exploração do lítio.
Em 2022, por exemplo, a quantidade de minério retirada do solo brasileiro foi de apenas 2,6 mil t – o salto para as 4,9 mil t do ano passado mostra que os investimentos em novas minas e na expansão das minas já existentes vêm sendo forte e constante.
O minério brasileiro é encontrado principalmente no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, na província de Borborema, localizada entre os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará e na província de Solonópole, também no Ceará. Os recursos e reservas dessas localidades formam um montante de mais de 1 milhão de t, posicionando o Brasil como dono da 7ª maior reserva do mundo.
“O monitoramento de dados, além de ajudar a mineradora a preservar o meio ambiente, inclusive no que diz respeito ao controle das emissões, também pode ajudá-la a economizar recursos”, diz Arís. “Sistemas bem implantados são capazes de otimizar as infraestruturas de TI e contribuir até para a redução do consumo de energia”.
MERCADO – A razão de tamanho interesse brasileiro pelo lítio é óbvia. O preço do metal no mercado global subiu de aproximadamente US$ 12 mil por t em 2019 para US$ 46 mil por t em 2023. Ou seja, quase quatro vezes em apenas quatro anos. O lítio é um minério cada vez mais valioso, já que se tornou o componente essencial de fontes renováveis de energia como painéis solares, turbinas eólicas e carros elétricos.
As baterias de íons de lítio são a pedra angular do uso do metal, sendo responsáveis por aproximadamente 90% do consumo global de lítio em 2022. Essas baterias alimentam uma ampla gama de produtos, para além de fontes alternativas de energia e o setor veícular.
De fato, as baterias estão presentes também em eletrônicos de consumo (como smartphones e tablets) e até em ferramentas elétricas portáteis, como furadeiras e cortadores de grama, já que elas oferecem a alta densidade energética necessária para as ferramentas sem fio.
Mas tudo isto tem um preço. Antes de todas estas aplicações, o lítio tem de ser extraído do solo. A extração do lítio é feita tipicamente por meio de um processo denominado mineração de salmoura, que envolve extrair lítio de reservas de água salgada do subsolo. Estima-se que aproximadamente 500 mil litros de água sejam necessários para minerar aproximadamente 2,2 milhões de litros por t de lítio.
Tecnicamente, o processo envolve bombear água salgada para a superfície, onde ela é evaporada para remover o lítio e outros minerais. Mas metais tóxicos podem contaminar fontes de água, ameaçando não somente os seres humanos, mas também a biodiversidade animal.
Calcula-se que cada t de lítio minerado também resulte ainda em 15 t de emissões de CO2 no meio ambiente.
Não apenas isto. Como a extração do lítio requer comumente escavação de poços abertos e tratamento com ácidos para extrair o minério para um meio aquoso, uma quantidade considerável de rejeitos sólidos precisará ser contida durante longo tempo.
É, desta forma, fundamental evitar que elementos tóxicos e contaminantes sejam transportados para o meio ambiente. De acordo com Arís, com a ajuda de ferramentas de monitoramento preventivo, as barragens com rejeitos estarão sob controle, o que facilitará a fase de remineração do lítio, algo bastante rentável nesta indústria.
Todos os processos também requerem bombeamento e eliminação de salmoura e ações para remover o lítio da salmoura. Líquidos residuais devem ser injetados de volta no solo – costuma-se evitar o uso de líquidos não residuais. Poeira e emissão de contaminantes voláteis precisam igualmente ser avaliados com cuidado.
Além do mais, geralmente, a recuperação de lítio a partir de barragens requer ácido sulfúrico, o que exigirá ações de monitoramento para minimizar a liberação de dióxido de enxofre no ar.
“Os dados acerca de sistemas de monitoramento da mineração de lítio também devem ser tornados públicos e disponibilizados online”, afirma o especialista. “Regulamentações globais já estabelecem que as minas precisam ser operadas com segurança para minimizar impactos adversos. Mas cabe às mineradoras implantarem sistemas de controle eficientes”, conclui Luis Arías. (Alberto Mawakdiye)