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Brasil evolui, mas permanece entre os países menos competitivos do mundo

O Brasil avançou três posições na edição 2020 do Anuário de Competitividade Mundial (World Competitiveness Yearbook – WCY), elaborado pela escola Suíça IMD (International Institute for Management Development). A Fundação Dom Cabral é responsável pelo capítulo Brasil do estudo, incluindo as análises locais. Em 2020, o Brasil passou a ocupar a 56ª posição no ranking. Este é o quarto ano consecutivo em que o país apresenta ganhos de competitividade. Ao todo, o estudo analisa a posição de 63 nações.

 

Cingapura segue no topo do ranking, seguida por Dinamarca e Suíça, posições antes ocupadas por Hong Kong e Estados Unidos. Enquanto a Dinamarca apresentou um ganho de 6 posições, os EUA caíram 7, ocupando agora a 10ª posição. Destaque positivo é atribuído também à Estônia, que subiu 7 posições e assumiu a 28ª colocação, e à Grécia, que subiu 9 posições e assumiu a 49ª colocação.

 

“Uma evolução mais significava do Brasil no ranking requer reformas e reestruturações nos ambientes político e socioeconômico. Desta forma, seriam garantidas condições estáveis e favoráveis à competitividade do país”, afirma o professor Carlos Arruda, diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e responsável pelo capítulo Brasil do ranking de competitividade. “Sistemas eficazes de saúde e educação, juntamente com a proteção do meio ambiente, são fatores fundamentais na condução das tendências de competitividade”, complementa.

 

O ganho de três posições em relação a 2019 se explica por ligeiros avanços nos pilares considerados: o país subiu uma posição no desempenho econômico (da 57ª para a 56ª), na eficiência do governo (da 62ª para a 61ª) e na infraestrutura (54ª para 53ª). O ganho mais significativo se deu na eficiência dos negócios, subindo da 57ª para a 47ª posição.

 

CORONAVÍRUS – Na edição 2020 do Anuário de Competitividade Mundial, o IMD assume os impactos recorrentes da pandemia da Covid-19 como fator limitante dos resultados apresentados. Apesar de os dados estatísticos serem anteriores à liberação do índice em pelo menos um ano, ou seja, se referirem ao período de 2019 ou um pouco anterior, a pesquisa executiva que também compõe o Ranking Mundial de Competitividade foi administrada entre fevereiro e abril de 2020, capturando alguns impactos da pandemia. Dessa maneira, indicadores que avaliam a adaptabilidade das políticas governamentais e a qualidade do sistema de saúde, por exemplo, podem refletir a crise recente.

 

Ainda assim, o IMD destaca que o ranking captura os problemas que a economia global experimentou em 2019, como os atritos comerciais entre os Estados Unidos e a China. Essas questões compreendem o lento crescimento do PIB e as quedas nas exportações e investimentos internacionais para alguns países. Foi possível identificar um padrão comum nos fatores que influenciaram o desempenho atual de países altamente classificados, com base no comércio e investimentos internacionais, emprego, abertura, estabilidade política e igualdade social e de gênero.

 

 

DESEMPENHO DOS PAÍSES – A liderança de Cingapura no ranking de 2020 justifica-se pelo notável desempenho econômico fundamentado no comércio e investimento internacional, medidas de emprego e mercado de trabalho, finanças públicas e legislação comercial. Além disso, a nação conta com um desempenho estável em produtividade, estrutura tecnológica e sistema de ensino.

 

A ascensão da Dinamarca, por sua vez, está baseada no forte desempenho de sua economia e mercado de trabalho e de seus sistemas de saúde e educação, para além dos investimentos internacionais e da produtividade.

 

Por outro lado, os Estados Unidos, que registraram uma das maiores perdas de competitividade do ranking, passaram por processos de deterioração do comércio internacional e das finanças públicas, além de quedas nas medidas de emprego e mercado de trabalho. Persistem as lacunas na estrutura social, que já acompanham o histórico do país e se traduzem na baixa eficiência do sistema de saúde e da proteção ambiental.

 

Além disso, o declínio de posição norte-americano pode ser explicado, em medida considerável, pelos atritos com a China. Desde 2018, quando o governo de Trump impôs tarifas de 25% sobre US﹩ 60 bilhões de produtos de tecnologia importados da China, os dois países estão em guerra comercial. Em agosto de 2019, foi anunciada uma nova imposição de tarifas sobre a importação de produtos chineses, com desvalorização do yuan como reação da China para baratear seus produtos e torná-los mais competitivos. Apesar da expectativa de um acordo entre as duas potências, esses atritos refletiram uma queda do desempenho dos países em 2019, além dos impactos mundiais envolvidos. Os EUA retrocederam da 16ª para a 32ª posição do ranking para comércio internacional, uma queda de 16 posições.

 

 

AMÉRICA LATINA – A América do Sul avançou no ranking médio neste ano, passando da 56ª para a 54ª posição, mas segue sendo a sub-região menos competitiva. Destaque positivo foi conferido para a política tributária e preços, e negativo para produtividade e eficiência, infraestrutura tecnológica, comércio internacional e estrutura social. Chile, líder de competitividade na América do Sul (38ª posição), Peru e Brasil (52ª e 56ª posições, respectivamente) avançaram no ranking; Colômbia e Argentina (54ª e 62ª) caíram de posição; e Venezuela permanece como o último colocado (63ª posição).

 

É interessante examinar a oscilação do desempenho dos países da América do Sul nos últimos cinco anos. Ao invés de um avanço sustentado, esses países registram ora avanços, ora retrocessos em suas posições no ranking de competitividade.

 

BRICS – Ao contrário do Brasil, os outros BRICS – Rússia, Índia, China e África do Sul não registraram avanço em 2020. A Índia permaneceu colocada na 43ª posição, enquanto Rússia, China e África do Sul retrocederam, respectivamente, das 45ª, 14ª e 56ª posições para 50ª, 20ª e 59ª posições. Vale destacar que a China já ocupou as 13ª (2018) e 14ª posições (2019) e que a África do Sul, que já esteve nas 52ª (2016) e 53ª (2017 e 2018) posições, inverteu sua classificação com o Brasil, de 2019 para 2020.

 

Essa queda observada para a China vai ao encontro da análise realizada para os EUA. Em 2019, a China se encontrava na 24ª posição para o ranking de comércio internacional. Já em 2018, caiu para a 38ª posição – um declínio de mais de 10 posições.

 

BRASIL –  Apesar do ligeiro avanço do Brasil no Ranking de Competitividade WCY 2020, o país permanece entre as nações menos competitivas do mundo. O ganho de três posições em relação a 2019 se explica por ligeiros avanços nos pilares considerados: o país subiu uma posição no desempenho econômico (da 57ª para a 56ª), na eficiência do governo (da 62ª para a 61ª) e na infraestrutura (54ª para 53ª). O ganho mais significativo se deu na eficiência dos negócios, subindo da 57ª para a 47ª posição.

De maneira geral, observaram-se avanços na densidade de novos negócios, nos fundos de pensão, nas finanças públicas, nos custos de capital, no emprego de longo prazo etc.; e perdas na estabilidade do câmbio, no saldo da conta corrente, no crescimento do capital fixo, no crescimento real do PIB, no acesso a água, na resiliência econômica etc.

 

Apesar do declínio de 9 posições na atratividade a investimentos estrangeiros (da 19ª para a 28ª posição), quando se avalia o fluxo direto de investimentos do exterior o país se mantém bem colocado. É a quarta nação, em termos absolutos, e a nona, em porcentagem do PIB, que mais recebe investimentos. Contudo, o balanço do fluxo de investimento direto é negativo.

 

A comunidade empresarial atuante no país foi convidada, a partir da Pesquisa de Opinião Executiva que compõe o estudo, a identificar 5 fatores-chave para a competitividade da economia brasileira. O principal aspecto de atratividade destacado foi a abertura e as atitudes positivas, seguido pelo dinamismo da economia. Do outro lado, o regime tributário foi evidenciado como o fator mais crítico à competitividade do país, seguido pela infraestrutura. É válido observar, ainda, que apenas 13,8% dos respondentes atribuíram ao alto nível educacional atuação fundamental no contexto brasileiro. Isso sugere uma lacuna nas políticas de incentivo e investimentos à educação para potencialização da competitividade.

 

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