Brasil quer fortalecer cooperação com o Vietnã na estratégica área de semicondutores

O Brasil deseja fortalecer a cooperação científica em setores estratégicos, como o de semicondutores, com o Vietnã, segundo a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que se reuniu com uma comitiva do país do sudeste asiático no dia 26 de agosto. O ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços também cita o setor de semicondutores como uma área de interesse para a cooperação entre os dois países.
Luciana Santos propôs a criação de um Centro Brasil-Vietnã em Semicondutores. O centro virtual funcionaria a partir da capacidade já instalada nos dois países, que se apoiariam em atividades conjuntas de capacitação de recursos humanos e de projetos conjuntos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. O Vietnã é uma importante base de produção para montagem e teste de semicondutores terceirizados globais.
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, se que reuniu com a comitiva vietnamita no dia 27 de agosto, falou do interesse do Brasil em recepcionar investimentos em setores de alta complexidade tecnológica. “O Vietnã nos inspira em investimentos nos setores estratégicos muito significativos relacionados à alta tecnologia, como os semicondutores”, disse. “O Brasil tem um sistema amigável para o desenvolvimento de semicondutores, temos empresa estabelecida no Rio Grande do Sul e há uma política pública de incentivo ao desenvolvimento de semicondutores, além de termos uma grande vantagem competitiva já que trabalhamos com um elevadíssimo patamar de sustentabilidade”, afirmou o secretário executivo.
O interesse do Brasil em fortalecer as relações com o Vietnã, na área de semicondutores, tem razão de ser. A crescente indústria de semicondutores no Vietnã desperta o interesse de grandes empresas como a Nvidia. O Vietnã é um hub para a cadeia de fornecimento de semicondutores, abrigando a maior fábrica global de testes e montagem da Intel.
O Vietnã é um importante player no mercado mundial de semicondutores, apoiado pela sua força de trabalho qualificada, apoio governamental e localização estratégica. Como terceiro maior parceiro de semicondutores dos EUA na Ásia, o país foi responsável por mais de 10% dos chips importados dos Estados Unidos durante sete meses consecutivos. O crescimento do mercado de semicondutores do país foi de 7,1% entre 2016 e 2021, e foi avaliado em 18,2 bilhões de dólares em 2022.
O país do sudeste asiático se destaca por sua participação em 16 acordos de comércio livre, bem mais do que os seus países vizinhos. O governo oferece incentivos para projetos de alta tecnologia, incluindo reduções e isenções fiscais. O país também mantém a sua relação custo-benefício com baixos custos laborais e uma mão de obra qualificada, com mais de 40% dos licenciados especializados em ciências e engenharia.
Organizações de pesquisa de mercado calculam que os engenheiros vietnamitas recebem cerca de US$ 8 mil por ano, cerca de metade do valor que os engenheiros recebem na Malásia. Esses valores são de US$ 34 mil na Coreia do Sul, US$ 46 mil em Taiwan, US$ 50 mil no Japão e US$ 68 mil em Cingapura.
Fontes da indústria de semicondutores dizem que os salários anuais para engenheiros de projeto com menos de três anos de experiência variam de US$ 10.000 a US$ 15.000 no Vietnã, contra US$ 65.000 a US$ 70.000 nos EUA.
O Vietnã, porém, ainda carece de uma força de trabalho qualificada em. Estima-se que o Vietnã tenha apenas cerca de “5.000 engenheiros trabalhando no design de semicondutores no país, a maioria deles espalhados por 36 empresas de chips não vietnamitas”. De acordo com Nguyễn Đức Minh, professor vietnamita de circuitos integrados, “o Vietnã produz atualmente apenas 500 engenheiros qualificados por ano”, e o país enfrenta a fuga de cérebros, porque os estudantes procuram salários mais elevados no estrangeiro.
Para solucionar o problema do baixo número de engenheiros, o país pretende expandir dez vezes a sua força de trabalho em semicondutores até 2030, com um plano para formar 50.000 engenheiros.
INVESTIMENTOS – Empresas de semicondutores que se destacam no cenário global realizaram investimentos substanciais, que variam de centenas de milhões a bilhões de dólares no Vietnã. Esses investimentos concentram-se no estabelecimento de fábricas, na expansão da produção e na montagem de semicondutores, conforme divulgado por órgãos de imprensa.
Uma delas é a Qualcomm, que se estabeleceu no Vietnã em 2003. Em 2020, construiu o seu primeiro centro de P&D no país e no Sudeste Asiático para expandir a produção de chipsets 5G.
A Intel opera no Vietnã desde 2006, com instalações de fabricação e testes de chips em Saigon Hi-Tech Park. O investimento total da empresa no país atingiu 1,5 bilhões de dólares até janeiro de 2021, criando mais de 6.500 empregos. O valor das exportações de 2010 ao terceiro trimestre de 2023 atingiu US$ 82 bilhões, representando aproximadamente 60% do valor total das exportações do Saigon Hi-Tech Park.
A Pegatron, um dos três fornecedores de iPhone da Apple, juntamente com a Foxconn e a Wistron, expandindo para o Vietnã desde 2020. Atualmente, está construindo uma fábrica em Hai Phong com um investimento total de aproximadamente 481 milhões de dólares. Entre 2026 e 2027, a empresa continuará a implementar o projeto com um investimento total de até 500 milhões de dólares.
Em outubro de 2023, a Amkor Technology, uma empresa líder global da indústria de semicondutores com sede no Arizona (EUA), inaugurou uma fábrica em Bac Ninh, Vietnã, com um investimento total de US$ 1,6 bilhão.
A Samsung também planeja produzir componentes semicondutores no Vietnã. A produção em massa de produtos leadframe de chips semicondutores pela Samsung Electro-Mechanics Vietnam em Thai Nguyen começou no final de 2023.
Em setembro de 2023, Hana Micron Vina, da Coreia do Sul, inaugurou um projeto de planta de fabricação de semicondutores no Parque Industrial Van Trung (Bac Giang). Hana Micron Vina é fabricante e processadora de placas de circuito integrado usadas em telefones celulares e outros produtos eletrônicos inteligentes, com um capital de investimento total registrado de quase US$ 600 milhões. Até 2025, a empresa planeia aumentar o seu investimento total para mais de um bilhão de dólares.
No final de maio de 2023, a gigante coreana de fabricação de chips, Hanmi Semiconductor, anunciou a abertura de sua filial Hanmi Vietnã em Bac Ninh. A Hanmi Semiconductor é designer, desenvolvedor e fabricante líder na indústria de equipamentos semicondutores.
Também em maio de 2023, a Infineon Technologies AG (Alemanha), empresa especializada em soluções de semicondutores para sistemas elétricos e IoT, anunciou a expansão das suas operações no Vietnã.
A Victory Giant Technology, uma empresa chinesa de fabricação de componentes eletrônicos e semicondutores, optou por construir uma fábrica com um investimento total de US$ 400 milhões em Bac Ninh.
Recentemente, a Synopsys (com sede na Califórnia, nos EUA), fornecedora de ferramentas e serviços para a indústria de design e fabricação de semicondutores, e o Centro Nacional de Inovação e Criatividade assinaram um memorando de entendimento sobre o desenvolvimento de recursos humanos em design de microchips no Vietnã.
Conforme o MDIC, o Vietnã foi o 17º fornecedor estrangeiro ao Brasil e o 18º maior destino das exportações brasileiras em 2023. Em 2023, as exportações brasileiras para o Vietnã cresceram 8,9% em relação ao ano anterior, passando de US$ 3,4 bilhões para US$ 3,7 bilhões. Já as importações brasileiras do Vietnã cresceram 0,8% em relação ao ano anterior, passando de US$ 2,9 bilhões para US$ 3 bilhões. (Franco Tanio)