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Concorrência externa do minério de ferro deve influenciar o preço da indústria nacional do aço

Rodrigo Scolaro (*)

O minério de ferro, matéria-prima essencial para a fabricação de aço, vem apresentando uma tendência de preços altos no mercado brasileiro para 2019 acompanhando os maiores preços da commodity no mercado internacional devido a diversos fatores, sobretudo a menor produção do minério no Brasil e Austrália. Essa alta já fez com que diversas siderúrgicas nacionais aumentassem seus preços.

Outro reflexo da alta dos preços é a queda do consumo no mercado nacional e das grandes quantidades de aço compradas no início da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, causada por medo de aumento nos preços. Além de aumentar os estoques, essa compra também atrasa as compras posteriores e esse cenário deve se manter por mais alguns meses devido às oscilações da economia e à queda nas exportações de carros para Argentina, pressionando as siderúrgicas a manter os preços altos para compensar as quedas nas vendas por pelo menos mais alguns meses.
Atualmente os argentinos são os maiores clientes da nossa indústria. A queda nas exportações de aproximadamente 240 mil veículos para o país em 2019, o que representa 7,6% da previsão de produção total do ano que está em torno de 3 milhões, segundo a previsão da Anfavea no início deste ano, deve custar caro ao país no consumo de aço.

Já no mercado americano, o preço do aço apresenta uma tendência estável para baixo. Esse mercado apresenta uma condição semelhante ao brasileiro com as tarifas de aço criando um receio de aumento nos preços, gerando grandes compras para estoque e posterior suprimento maior que a demanda.

Os preços só não reagiram positivamente, como no mercado brasileiro, devido à menor pressão do minério de ferro no mercado internacional e à maior concorrência de importados, além do mercado local responder mais rapidamente ao comportamento dos compradores.

Além disso, outro fator internacional acabou afetando o mercado do aço no final do mês de maio, a falência do segundo maior grupo siderúrgico privado do Reino Unido, a British Steel. A empresa vinha sofrendo dificuldades econômicas desde que o Brexit foi aprovado, o que ocasionou muitos pedidos cancelados na União Europeia e gerando um prejuízo nas contas da empresa de US$ 95 milhões, criado uma ameaça de desemprego de quase 25.000 pessoas, entre empregos diretos e indiretos.

Por enquanto, o gerenciamento da empresa ficou a cargo de membros do governo britânico avaliando as opções de venda, mas a longo prazo espera-se um impacto na produção.

Os preços do minério de ferro estão subindo também devido a menores estoques na China, o maior consumidor do planeta, por um boom de infraestrutura no país, além dos problemas na produção devido aos problemas recentes dos rompimentos das barragens em Minas Gerais.

As grandes empresas do setor já se mobilizam para reverter o quadro de produção do aço e já anunciaram grandes investimentos em estados como SP e Pará. Isso deve refletir na produção do aço brasileiro, porém os resultados também serão para o longo prazo.
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(*) O autor é economista da Costdrivers.

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