Embrapa e produtores de algodão criam sistema digital de monitoramento de pragas
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) lançaram, no começo do mês de fevereiro,um sistema digital, batizado de Monitora Oeste, que envia diretamente para o telefone celular alertas do avanço da mancha de ramulária do algodão e, de quebra,também da ferrugem asiática da soja sobre a região oeste da Bahia,destaque nacional na produção de algodão e soja. Na foto,veja algodoeiro atacado por ramulária.
O Monitora Oeste torna possível, assim, acompanhar a disseminação territorial das doenças. Ao participar do programa, o usuário pode fazer consultas a mapas diários das ocorrências e das condições climáticas favoráveis para que elas aconteçam. O sistema de filtragem das buscas é sofisticado: elas podem ser filtradas por municípios, tipos de áreas de cultivo e núcleos fitossanitários.
O banco de dados do Monitora Oeste é alimentado por uma rede composta por pesquisadores, extensionistas e produtores regionais que percorrem os campos baianos de plantações de soja e de algodão durante o período de safra.
Ao descobrirem focos de doenças, eles lançam as informações no sistema, e, instantaneamente, os alertas chegam ao celular do produtor cadastrado, dando-lhe tempo para a tomada de decisão.
“O Monitora Oeste permitirá aumentar a eficiência de controle das doenças, com a possibilidade de redução de custos e também dos impactos ambientais, já que será necessária uma quantidade menor de aplicações de defensivos”, diz Julio Bogiani, pesquisador da Embrapa Territorial eque liderou o trabalho de desenvolvimento da tecnologia.
De acordo com Bogiani, a grande vantagem do sistema é que ele aproveita a mídia mais utilizada pelo produtor rural, o celular, para promover uma rede de colaboração para o monitoramento de duas doenças de grande repercussão para a cultura do algodão e a sojicultura, a mancha de ramulária e a ferrugem da soja.
Ambas são potencialmente devastadoras para as culturas de algodão e soja quando fora de controle, pois são de rápida disseminação. Assim, ter uma informação precisa e atualizada permitirá aos produtores traçar estratégias mais eficazes de controle, com sustentabilidade.
O oeste da Bahia é uma região que se destaca principalmente na produção nacional de algodão. Na safra 2021/2022, o estado deve consolidar, no final da semeadura, em torno de 290 mil ha de algodão, com produção estimada de 563 t de pluma, e produtividade de 1.937 kg de pluma por hectare. A região concentra a quase totalidade da produção baiana de algodão, 60% da qual é exportada.
DESCARBONIZAÇÃO – A Embrapa vem se destacando no desenvolvimento de tecnologias que visam a descarbonização da agricultura. A empresa e suas tecnologias de baixo carbono foram, inclusive, o destaque do seminário “Agricultura sustentável: o que já está funcionando?”, que aconteceu também em fevereiro na Embaixada do Brasil no Reino Unido, em Londres.
O presidente da Embrapa, Celso Moretti, demonstrou para CEOs de empresas privadas e organizações não governamentais, parlamentares e autoridades britânicas e brasileiras, que o Brasil alimenta o mundo ao mesmo tempo que protege o meio ambiente.
“A realidade é que nosso país ainda tem 66,3% do seu território preservado”, assegurou Moretti,citando dados de estudos estratégicos da Embrapa, do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da agência Terraclass.
De acordo com o executivo, o território brasileiro é composto por 33,2% de áreas destinadas à preservação da vegetação nativa no Brasil, 9,4% de unidades de conservação integral, 13,8% de terras indígenas, 9,9% de vegetação nativa em áreas militares e terras devolutas, o que totalizam 66,3% de áreas preservadas. Lavouras e pastagens somam 7,8% e 21,2%, respectivamente.
Para o presidente da Embrapa, é possível alimentar o mundo e proteger o meio ambiente com políticas públicas e uma agricultura de baixo carbono. “Tanto que o Brasil é responsável por alimentar mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo e exporta produtos agropecuários para mais de 200 países”, destacou.
Entre as políticas públicas que dão suporte à descarbonização da agricultura brasileira, Moretti destacou o Código Florestal Brasileiro, o Renovabio, o Plano ABC de Agricultura de Baixo Carbono e o Pronasolos.
No âmbito do Plano ABC, ele lembrou que atualmente o governo brasileiro implementa o ABC+, intensificando o financiamento e estímulo ao setor rural para a implementação de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, como a de fixação biológica do nitrogênio, a recuperação de pastagens degradadas, o plantio de florestas, a integração lavoura-pecuária-floresta e o manejo sustentável.
Segundo ele, os ganhos do agronegócio brasileiro com a adoção da fixação biológica do nitrogênio foram expressivos, por exemplo, na cultura da soja, permitindo que na safra 2020/2021 o país economizasse US$ 17 bilhões ao deixar de comprar compostos nitrogenados e substituí-los pela incorporação natural do nitrogênio disponível na atmosfera. Foram 38,5 milhões de ha de áreas cultivadas com o uso da tecnologia. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: Nelson Dias Suassuna/divulgação Embrapa)