Faturamento do setor eletroeletrônico recua 6% em 2023

A indústria eletroeletrônica fechou 2023 com faturamento de R$ 204,2 bilhões, uma queda nominal de 6% na comparação com 2022, segundo dados divulgados ontem, 7 de dezembro, pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Em termos reais, a queda também foi de 6%, uma vez que a inflação média do setor, medida por meio do IPP – Índice de Preços ao Produtor divulgado pelo IBGE, agregado pela Abinee, ficou praticamente estável em 2023. A queda foi bem maior que a esperada. Em dezembro de 2022, a expectativa era de crescimento de 5% em 2023.
As áreas de Componentes Elétricos e Eletrônicos (-25%), Telecomunicações (-21%) e Informática (-17%) foram as responsáveis pelo desempenho setorial negativo. Já o principal destaque positivo foi a área de Automação Industrial (+19%). Outras áreas com desempenho positivo foram: Utilidades Domésticas (+6%), Geração, Transmissão e Distribuição de Energia (+5%), Equipamentos Industriais (+4%) e Material de Instalação (+1%).
A produção física do setor apresentou queda de 8% em 2023 em relação ao ano passado. Essa redução acompanha o fraco desempenho da produção de bens de capital que, conforme dados do IBGE, acumula retração de 10% nos primeiros dez meses de 2023 em relação ao mesmo período de 2022.
O número de empregados do setor também teve queda, encerrando o ano com 263,3 mil trabalhadores, 4 mil vagas a menos que no final de 2022 (263,7 mil trabalhadores).
“O desempenho do setor eletroeletrônico ficou aquém das expectativas, principalmente nas áreas de bens de consumo”, afirma o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato.
Segundo Barbato, no caso dos bens de consumo, além da antecipação de compras de eletrônicos, principalmente notebooks, em 2020 e 2021, para atender às necessidades do home office e ensino à distância, outros fatores inibiram as vendas, tais como restrição de crédito, endividamento das famílias e queda no tíquete médio dos produtos.
CONTRABANDO – Agravando a queda no consumo, o setor também enfrenta a concorrência desleal. As vendas de celulares caíram (-14%), mas houve o crescimento significativo do mercado irregular de aparelhos, cuja participação nas vendas totais passou de 8% (em 2019) para 21% no quarto trimestre deste ano.
As vendas de celulares irregulares no mercado brasileiro ocorrem principalmente por meio dos marketplaces, que não assinaram o acordo com a Anatel que ocorreu entre abril e maio de 2023, no âmbito do Plano de Ação de Combate à Pirataria, quando a agência pediu aumento dos esforços para bloquear anúncios e a comercialização de produtos de telecomunicações, como smartphones não homologados pela Anatel.
O presidente da Abinee cita nominalmente o Mercado Livre e o Amazon como os principais responsáveis pela pirataria de smartphones. “Mercado Livre e Amazon. Vamos dar nomes aos bois. Eles não assinaram o acordo com a Anatel. E isso não é nenhuma denúncia por uma razão: tudo o que estamos colocando aqui tratamos de colocar muito claramente em cartório, registrando todos os anúncios que demonstram claramente como se tenta convencer o consumidor a comprar produtos contrabandeados”, afirma.
Dados divulgados pela Abinee, citando dados do IDC, indicam que o mercado oficial de smartphones recuou de 8,6 milhões de unidades no primeiro trimestre de 2023 para 7,6 milhões de unidades no quarto trimestre. Por outro lado, as vendas de smartphones não oficiais saltou de 880 mil unidades no primeiro trimestre para 2 milhões de unidades no quarto trimestre.
O comércio irregular de smartphones, somente no primeiro trimestre de 2023, causou perdas de R$ 2,1 bilhões na arrecadação de impostos, 10 mil empregos diretos e indiretos e R$ 209 milhões em investimentos em atividades de pesquisa e desenvolvimento, por meio da Lei de Informática.
Os smartphones irregulares entram via Paraguai e chegam a custar cerca de 40% menos nos marketplaces, já que não pagam impostos. A Abinee teme que as vendas irregulares via marketplaces se estendam para outros produtos, como laptops e desktops.
OCIOSIDADE – Em 2023, a indústria eletroeletrônica brasileira operou com elevado nível de ociosidade. A utilização da capacidade instalada recuou de 76% em 2022, para 72% em 2023, o percentual mais baixo desde junho de 2020 (68%). “O nível de ociosidade preocupa, são 30%”, afirma Barbato. Isso reflete no nível de investimentos do setor, que recuaram de R$ 3.753 milhões em 2022 para R$ 3.514 milhões em 2023 (-6%). Relativamente ao faturamento setorial, o nível de investimentos ficou estável em 1,72% de 2022 para 2023.
De acordo com Barbato esse investimento serviu basicamente para a fabricação de produtos com nível tecnológico compatível com o mercado internacional, mas não para o aumento da produção.
COMÉRCIO EXTERIOR – Destaque positivo foram as exportações do setor, que apresentaram aumento de 7%, totalizando US$ 7,2 bilhões. Destacaram-se os crescimentos nas vendas externas de bens de Automação Industrial (+32%), de Material Elétrico de Instalação (+24%) e de bens de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica – GTD (+24%).
As importações recuaram 5%, somando US$ 43,1 bilhões. Os semicondutores (que compreendem diodos, circuitos, memórias etc.) foram os itens mais importados, alcançando US$ 5,3 bilhões. Individualmente, o produto mais importado do setor foi o módulo fotovoltaico (US$ 3,9 bilhões), que ficou na 4ª posição no total geral das importações do Brasil.
O déficit da balança comercial totalizou US$ 35,9 bilhões, resultado 7% inferior ao apresentado em 2022 (US$ 38,6 bilhões). A queda no déficit foi mais influenciada pela retração nas importações, em virtude da queda na produção interna, do que pelo aumento das exportações.
PERSPECTIVAS – As expectativas são de melhora no desempenho da indústria eletroeletrônica em 2024, porém permanecem as incertezas em relação ao cenário interno e externo, o que deverá manter os empresários cautelosos.
“Há fatores que geram perspectivas favoráveis para o próximo ano, com destaque para a tão esperada Reforma Tributária, que deverá aumentar a competitividade da indústria, reduzindo a complexidade do sistema tributário do país e desonerando as exportações e os investimentos”, afirma Barbato. A nova Política Nacional de Semicondutores e a construção de uma política de neoindustrialização também podem trazer expectativas positivas para o setor.
A mais recente Sondagem realizada com os associados da Abinee indicou que 64% das empresas do setor projetam crescimento para as vendas da indústria eletroeletrônica para 2024, 33% esperam estabilidade e 3% preveem queda.
O setor espera um aumento nominal de 2% no faturamento, que deverá alcançar R$ 208 bilhões e projeta elevação de 3% na produção. O nível de emprego deve passar de 263,3 mil para 266 mil trabalhadores. Já os investimentos devem aumentar 3%, totalizando R$ 3,6 bilhões. As exportações devem crescer 4% (US$ 7,5 bilhões) e as importações, 3% (US$ 44,5 bilhões). E capacidade instalada deve aumentar de 72% para 74%. (Franco Tanio)