Há 50 anos o homem pisou na Lua; 20% dos americanos não acreditam

Daqui a poucos meses, completa-se 50 anos de uma das maiores façanhas da história da humanidade. No dia 20 de julho de 1969, sob o olhar espantado dos terráqueos com acesso à TV, os astronautas americanos Neil Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin desciam da nave Apollo 11 para dar uma voltinha pela superfície lunar, lá deixando, além das pegadas, a bandeira dos EUA e uma placa comemorativa.
Sem dúvida, a data será lembrada com as indispensáveis pompa e circunstância pela agência espacial americana, a Nasa, e o presidente Donald Trump certamente não perderá a oportunidade de proferir algum discurso inflamado a respeito. As comemorações devem se repetir mundo afora, principalmente entre a comunidade científica, e a mídia internacional falará exaustivamente da efeméride. Vai ter-se – literalmente – banhos e banhos de lua.
Mas é bem possível que vários desses banhos sejam frios – ou até mesmo gélidos. Principalmente nas redes sociais. Recentes pesquisas de opinião mostraram que até 20% dos próprios americanos e 28% dos russos acreditam que os seis desembarques tripulados na Lua entre 1969 e 1972 foram simplesmente um engodo. Eles jamais teriam acontecido, com a simulação tendo sido motivada pelo desejo americano de ganhar de vez a Corrida Espacial que então disputava com os soviéticos.
Essa desconfiança – que os cientistas afirmam ser meramente uma tosca teoria da conspiração – não começou ontem. Começou, de fato, já na década de 1970, desde que os primeiros acusadores da alegada farsa desandaram a apresentar “provas” de todos os tipos (de fotos a contradições temporais) de que as alunissagens foram feitas não na Lua, mas, sim, em algum estúdio de TV montado pela Nasa em algum ponto remoto dos EUA. Desde então, esta desconfiança só vem crescendo, a ponto de hoje a ela terem aderido mais de um quarto dos russos e um quinto dos americanos.
Naturalmente, dentre esses céticos enfileiram-se milhões de pessoas a quem deve faltar um pouco de fosfato no cérebro, assim como antiamericanos fanáticos – para quem em tudo o que os americanos fazem há alguma manipulação por trás – e crentes em Adão e Eva ou na Terra Plana. Mas o mais intrigante é que tem muita gente culta e bem informada que tampouco acredita na proeza de Neil Armstrong e colegas. Ou que, pelo menos, gostaria de ter provas mais substanciais de que as alunissagens realmente ocorreram.
Há inclusive até alguns cientistas renomados neste último time, capazes de eles mesmos irem atrás da verdade nesta história. Um deles é Dmitry Rogozin, que é nada menos do que o chefe da agência espacial russa, a Roscosmos. Em novembro do ano passado, Rogozin anunciou, em um vídeo que deixou boquiabertos aqueles que o assistiram, que uma futura missão do país para a Lua terá como objetivo específico verificar se os americanos realmente pousaram no satélite em 1969.
“Estabelecemos esse objetivo de voar [para a Lua] e verificar se eles estiveram mesmo lá ou não”, afirmou Rogozin, na verdade em resposta a um questionamento de que se ele achava que a Nasa de fato tinha pousado na Lua 50 anos atrás. O tom da declaração do cientista pareceu conter algo de piada, mas o anúncio até agora não foi desmentido. E os chefões da Roscomos não costumam ser dados a gracejos.
LUA ESCANTEADA – Talvez o que mais venha alimentando as várias teorias e subteorias conspiratórias sobre a chegada ou não do homem à Lua seja o fato de que os americanos foram pra lá seis vezes em três anos – sem duvida, uma grande quantidade de viagens – mas desde 1972 elas não mais se repetiram. Os americanos nunca mais foram pra lá. Por quê? Os céticos se perguntam. E muitos deles têm a resposta na ponta da língua: não foram mais para lá porque nunca foram. A farsa foi montada só para encerrar a Corrida Especial com a derrota final da União Soviética.
No entanto, as muitas explicações possíveis ao “escanteamento” da Lua no programa espacial americano – pois o programa continuou, e hoje naves não tripuladas são enviadas para Marte e até Júpiter e adjacências – são bastante plausíveis e vão além da mais óbvia: o que os americanos teriam a ganhar indo até a Lua outra vez? Nada. Pois nada ali serve por enquanto como objeto de desejo. A Lua, fisicamente, não passa de um vasto deserto gelado, e se há minérios lá, como se cogita, o homem não é ainda capaz sequer de mapeá-los, quanto mais explorá-los.
Há também razões financeiras. Enviar uma nave tripulada à Lua (como para qualquer outro lugar fora da Terra) é e sempre será um projeto extremamente caro, envolvendo necessariamente centenas, senão milhares, de empresas fornecedoras de equipamentos e enorme dispêndio em tecnologia e segurança. E a Nasa hoje não é uma organização que nada em dinheiro. Na época da conquista da Lua, o montante que o governo dos EUA destinava aos projetos da Nasa representava quase 5% do orçamento federal. Atualmente, corresponde a menos de 1%.
Resta ainda o fato de a Lua representar hoje pouca relevância científica na comparação com as viagens para outros planetas e rincões estelares, que ainda por cima exigem um investimento muito menor. E, é claro, há o óbice político. Os tempos são de penúria econômica em quase todo o planeta. Como o governo americano poderia justificar aos eleitores que mandará outra vez astronautas para a Lua, a um custo exorbitante, só para trazer pedras iguais às que já estão por aqui?
Mas, sem dúvida, se estas novas viagens à Lua acontecessem, as teorias sobre a “Farsa da Nasa” desapareceriam como por encanto, apenas por conta das novas tecnologias de comunicação e informação. Diga-se, aliás, que não é impossível que a Lua retorne à agenda, mesmo não existindo muitas razões práticas para isto, a não ser a de utilizá-la como uma espécie de posto de baldeação espacial. O mundo, devagar, começa a olhar para a Lua. Desta vez não seriam mais apenas os EUA.
A Rússia pretende enviar homens à Lua no início da década de 2030, numa missão que deve durar 14 dias (será a tal viagem para confirmar a façanha de Neil Armstrong?). A China, que já está mandando naves não tripuladas para lá, quer em breve também mandar astronautas. O Japão e a União Europeia igualmente já manifestaram interesse nisto, assim como a Índia. Muitas iniciativas privadas também estão atrás de um modelo de negócios espacial para explorar os minerais existentes no subsolo do satélite, ou para ancorar sofisticadas viagens turísticas.
Até os reticentes Estados Unidos já acenaram que a sua “ojeriza lunar” pode acabar um dia. De fato, o presidente Donald Trump recém aprovou uma diretriz que autoriza a Nasa a enviar novamente missões tripuladas à Lua. Apenas uma diretriz, sem planos ou suporte orçamentário, mas um indício de que o assunto voltou à baila.
De qualquer forma, mesmo que só uma parte dessas viagens à Lua que estão sendo cogitadas realmente acontecer, o povo cético, devido ao poder da imagem que hoje reina absoluta, certamente começará a acreditar que já chegamos lá.
Ou não? Afinal, em 1969, o pouso de Armstrong foi transmitido pela TV. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: Nasa – divulgação)