Metal Mecânica

IA no combate à escassez de mão de obra

Na tarde de quinta-feira, 26 de junho, o painel do Congresso Fispal Tec – “IA e automação: caminhos inovadores para enfrentar a escassez de mão de obra” reuniu representantes de três grandes companhias do setor industrial (BRF, M. Dias Branco e Festo), para discutir como a digitalização e o uso de tecnologias emergentes podem mitigar um dos principais gargalos enfrentados pela indústria alimentícia e de bebidas: a falta de profissionais qualificados. A conversa foi conduzida por Carolina Abrante, managing partner e head de transformação ágil e estratégias digitais da Bridge & Co., que propôs uma reflexão crítica sobre os impactos da automação na cultura organizacional e nos modelos produtivos.

 

Leandro de Lima, gerente executivo de tecnologia da BRF, ressaltou que a automação não é mais uma escolha, mas uma questão de sobrevivência industrial. “Há regiões onde simplesmente não há mais gente para contratar. Precisamos de processos autônomos e inteligentes para manter a operação funcionando com eficiência”, afirmou. Segundo ele, a empresa já utiliza modelos preditivos e sistemas de visão computacional em linhas produtivas, com resultados expressivos tanto em produtividade quanto em segurança operacional.

 

Na sequência, Liliana Pedrosa P. Carrhá, gerente de hiperautomação e inovação aberta na M. Dias Branco, destacou o papel da IA na transformação do chão de fábrica. “Não estamos falando só de robotização, mas de um ecossistema de automação que integra dados em tempo real, decisões autônomas e atuação proativa dos sistemas. E isso não substitui pessoas, mas reposiciona o trabalho humano em atividades mais criativas e de maior valor agregado.” Liliana também enfatizou a importância de programas de capacitação interna e da aproximação com startups para acelerar a inovação aberta.

 

 

Representando a Festo, André Paes, gestor de negócios de digitalização, trouxe o olhar da indústria de automação, pontuando que a escassez de mão de obra qualificada vem se agravando globalmente, e que isso exige soluções escaláveis e customizadas. “As fábricas precisam de sistemas flexíveis, que aprendam com os dados e se adaptem ao contexto. A IA embarcada nos equipamentos já é realidade e muda o jogo, tanto em performance quanto em manutenção preditiva.”

 

A moderadora Carolina Abrante provocou os participantes a pensarem também nos impactos sociais e culturais dessas mudanças. “Como garantir que a transformação digital inclua e capacite as pessoas, e não apenas substitua processos?”, questionou. Todos os painelistas concordaram que o fator humano segue central, e que a inteligência artificial deve ser encarada como uma aliada, não uma ameaça.

 

Ao final, o painel reforçou que a automação inteligente não é apenas resposta à escassez de mão de obra, mas sim uma alavanca estratégica para reimaginar a produção industrial, construir operações mais resilientes e liberar o potencial criativo das equipes.

 

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS – Inovação, sustentabilidade e tecnologia são pilares estratégicos para a indústria que busca soluções mais eficientes e responsáveis. Na Fispal Tecnologia 2025, os profissionais da indústria de alimentos e bebidas podem conferir as últimas novidades do setor ao explorar os corredores do São Paulo Expo, onde mais de 400 empresas apresentam os avanços que aliam desempenho, redução do impacto ambiental e viabilidade para negócios de todos os portes.

 

Entre as marcas expositoras, a Miaki Revestimentos apresenta ao público um conjunto de soluções inovadoras, com foco em sustentabilidade e alta performance. De acordo com Ruan Gonçalves, gerente de Marketing da Miaki, atualmente a empresa oferece um dos portfólios mais completos do Brasil quando se trata de membranas para cobertura. Entre os destaques estão as membranas acrílicas e a nova membrana de silicone e a versão híbrida, que combina os dois materiais.

 

Com o foco em atender empresas do setor corporativo, o trabalho da Miaki vai além da simples aplicação de produto: realiza-se um tratamento completo na cobertura do cliente. O produto é aplicado em camadas que atuam diretamente nas principais necessidades de um telhado. Não se trata apenas de uma tinta. O sistema conta com acabamento anticorrosivo, tratamento específico para parafusos e impermeabilização – já incorporada no produto, seja na versão acrílica, de silicone ou com poliuretano. É aplicada uma camada de proteção térmica, dessa forma, a empresa garante não apenas a redução de 12 graus na temperatura interna do ambiente, mas também a prevenção contra infiltrações e goteiras, contribuindo significativamente para o conforto e a eficiência operacional das empresas atendidas.

 

“A Fispal tem sido um excelente espaço de networking para nós. É sempre muito positivo participar, pois recebemos um público altamente alinhado com o nosso segmento. Temos a oportunidade de apresentar nossas soluções e, ao mesmo tempo, entender e resolver as dores dos nossos clientes. Esse evento é um ponto de encontro tanto com os clientes que já atendemos quanto com novas conexões. Prova disso são as 15 edições consecutivas em que participamos da Fispal, e cada uma tem sido uma experiência recompensadora”, afirma Ruan.

 

Outra empresa que traz soluções sustentáveis é a Empilha, uma startup paranaense que se destaca por sua abordagem inovadora na gestão de pallets usados, transformando esse processo em uma operação inteligente, sustentável e economicamente vantajosa. A empresa foca na economia circular dos pallets, um ativo de giro crucial na cadeia logística e no transporte de mercadorias.

 

Por meio de sua plataforma de gestão inteligente, a Empilha realiza inventários em tempo real, monitorando a localização dos pallets e otimizando seu agendamento para maior eficiência. Com esse sistema, é possível reduzir os custos e aumentar a vida útil dos pallets, promovendo seu reaproveitamento na cadeia. A empresa consegue ampliar o ciclo de vida dos pallets de cinco a oito vezes, reduzindo em até 70% os custos com a compra de pallets novos.

 

Além dos benefícios econômicos, a iniciativa também gera impacto ambiental positivo. A reutilização de pallets contribui para a redução do desmatamento, já que, mesmo sendo fabricados a partir de madeira de reflorestamento, sua reutilização evita a necessidade de extração de novas árvores. Para cada 50 pallets reaproveitados, a Empilha contribui para a mitigação de uma tonelada de carbono na atmosfera.

 

“Este é o terceiro ano participando da Fispal e tem sido um divisor de águas para nós, tanto no cenário nacional quanto na América Latina. A feira proporciona uma visibilidade muito grande. Trata-se de um público qualificado, com profissionais de nível gerencial e coordenadores. Percebemos que quem frequenta a Fispal está em busca de soluções para suas empresas. A Empilha nasceu praticamente dentro da Fispal e, hoje, vemos o evento como a principal vitrine de soluções que oferecemos. Nosso foco está 100% na indústria de alimentos e bebidas, um setor no qual conseguimos gerar uma performance significativa”, afirma Tiago Chiaratti, CEO da Empilha.

 

FRIGORÍFICOS – A modernização do setor frigorífico vem ganhando força com a adoção de tecnologias que garantem a segurança alimentar e otimizam os processos produtivos. Na Fispal Tecnologia 2025, o sistema de inspeção por raio X da Ishida Brasil se destaca ao assegurar a qualidade e a segurança dos produtos.

 

“Utilizado especialmente para detectar contaminantes físicos como metais, vidro, pedras e ossos em produtos como filé de meio peito, o raio X garante que os alimentos cheguem ao consumidor final livres desses riscos”, explica Márcio Molina, especialista da equipe de vendas da Ishida Brasil.

 

Segundo Márcio, a tecnologia é capaz de identificar até os menores fragmentos, atendendo rigorosamente às normas da Anvisa, em especial a RDC 623. “O equipamento é fabricado no Japão pela Ishida, enquanto aqui no Brasil atuamos na venda e no suporte técnico”, complementa.

 

Outro destaque da feira é a solução integrada para processamento e embalagem de produtos fatiados, apresentada pela Ulma em parceria com a Weber. Luiz Henrique, gerente de aplicações da Ulma, ressalta que o diferencial do sistema está na completa integração das etapas de fatiamento, embalagem e paletização.

 

“Temos uma linha automática que abrange todo o processo, do fatiamento de produtos em logs até a paletização final, permitindo que toda a operação seja supervisionada por apenas uma pessoa”, detalha.

 

De acordo com Luiz, essa integração gera ganhos significativos em eficiência e redução de custos, impactando diretamente no preço final ao consumidor.

 

A linha utiliza embalagem termoformada, uma tecnologia que oferece maior proteção e qualidade visual aos produtos fatiados, elevando o padrão de apresentação e conservação dos alimentos. “Não se trata apenas de um equipamento de fatiamento, mas de uma solução completa para o mercado frigorífico, supermercados e indústrias de laticínios”, afirma Luiz Henrique.

 

O público da Fispal Tecnologia pode conferir soluções para frigoríficos e para todo o mercado de alimentos e bebidas até hoje no São Paulo Expo. Confira a programação do evento no site

 

PMEs – Na busca por mais produtividade e competitividade, pequenas e médias empresas encontram na Fispal Tecnologia soluções práticas e integradas. Empresas como Wago e IFM Electronic destacam-se ao apresentar tecnologias acessíveis que promovem eficiência, conectividade e segurança nos processos industriais. Realizada no São Paulo Expo, a feira conta com mais de 400 expositores e vai até hoje.

 

A Wago destacou uma linha de controladores desenvolvidos para automatizar máquinas e processos, mesmo em ambientes com equipamentos de diferentes fabricantes. Com isso é possível melhorar o controle da operação e ampliar a capacidade de diagnóstico. Outro destaque é a segurança digital: todos os controladores e PCs industriais da marca já contam com protocolos embarcados de cibersegurança.

 

“Muitos visitantes estão procurando alternativas para integrar melhor as máquinas, com soluções que ajudem no diagnóstico e que sejam fáceis de usar”, afirmou Eduardo de Marchi, engenheiro de suporte da Wago. Entre os modelos apresentados estão os controladores das linhas CC100, PFC e Edge Controller, reconhecidos pela flexibilidade na comunicação com diferentes protocolos e pela robustez para aplicações industriais.

 

Já a IFM Electronic apresentou uma solução ideal para ambientes onde a instalação de cabos é limitada ou custosa. Com o uso de tecnologia Bluetooth Mesh, a empresa demonstrou como é possível integrar sensores e dispositivos IO-Link sem fios, conectando até 50 equipamentos a uma única estação base. Os dados são transmitidos em tempo real, com segurança garantida por senha, e podem ser avaliados diretamente em aplicações de IoT via protocolos como MQTT e JSON.

 

“É uma forma prática de entender o que está acontecendo na fábrica, sem altos custos ou necessidade de trocar equipamentos”, explicou Roger Silveira, gerente de produtos da IFM. A tecnologia permite retrofitar instalações existentes e coletar informações diretamente de botões, sinalizadores e entradas digitais, oferecendo diagnóstico rápido, instalação modular e compatibilidade com máquinas antigas.

 

 

Além disso, a empresa destacou sua interface de operação com tela sensível ao toque, que facilita o controle de processos e a visualização de dados de forma intuitiva. A solução pode ser aplicada em diversas frentes, como linhas de produção, controle de insumos ou monitoramento de tanques, contribuindo para a eficiência operacional.

 

 

GERAÇÃO Z E A ALTA PERFORMANCE  – O auditório do Congresso Fispal Tec, principal atração da Fispal Tecnologia, foi palco de uma das palestras mais instigantes do evento: “O Paradoxo da Geração Z e a Alta Performance no Trabalho”, com o pesquisador e comunicador Dado Schneider. Com doutorado em Comunicação e décadas de atuação no mercado publicitário, Dado entregou uma apresentação que desconstruiu não apenas os mitos que cercam a geração Z, como também desafiou as certezas das gerações anteriores sobre trabalho, carreira, autoridade e futuro.

 

“Nós fomos criados para um mundo vertical. A estrutura era hierárquica, a autoridade vinha de cima, e o respeito era baseado no medo”, explicou. “A geração Z não reconhece essa lógica. Eles não foram criados temendo a autoridade. Para eles, autoridade se conquista.” Segundo Dado, vivemos hoje um momento de colisão entre duas agendas: a do século XX, baseada em comando e obediência, e a do século XXI, construída em torno de diversidade, inclusão, cooperação, sustentabilidade e horizontalidade. “A geração Z – e, em breve, a geração Alfa – já nasceu ouvindo esses termos. Eles não sonham como era viver nas trevas sem internet”, ironizou. Para ele, esse choque cultural é responsável por uma série de ruídos nas relações de trabalho e na convivência intergeracional. “Estamos exigindo alta performance de uma geração que passou a vida ouvindo que equilíbrio entre vida e trabalho é essencial. Será que não basta exigir apenas performance?”

 

Com tom provocador, Dado destacou que não se trata de julgar as gerações, mas de compreender o contexto em que cada uma se formou. “Quando eu tinha 21 anos, já era considerado adulto. A expectativa de vida era de 62 anos. Hoje, um jovem de 30 está apenas completando 25% da sua existência. A matemática mudou. A lógica da vida mudou. E a gente precisa aceitar isso para não se tornar irrelevante.” Em meio a referências ao cotidiano, cultura pop e bastidores corporativos, o palestrante revelou um dado inquietante: “Talvez nós sejamos a primeira geração mais velha que não serve de modelo profissional para os mais jovens. Porque eles não querem ser como nós. Eles nos viram estressados, sem tempo, presos a e-mails e cobranças. Eles querem outra coisa.”

 

A palestra também tratou de temas como a inteligência artificial, a obsolescência de modelos educacionais e a urgência da atualização constante. “O futuro não é mais dos jovens. O futuro é de quem resolver acompanhar os acontecimentos. E isso inclui os mais velhos. Quem tem mais repertório, faz melhores perguntas para a IA. E quem tem mais repertório? Nós, os velhos.” Ele citou uma frase da especialista Marta Gabriel para reforçar a ideia: “Você não será substituído pela inteligência artificial. Será substituído por alguém que saiba lidar melhor com ela.”

 

Ao longo da fala, Dado conduziu o público a reconhecer o desconforto como parte do processo de transformação. “Nós somos adultos inéditos. Vamos viver mais de 100 anos. Vamos trabalhar mais tempo. Vamos sustentar filhos e netos que voltam pra casa aos 40, aos 50, aos 98, com filhos debaixo do braço e mais um pet.” Em seu estilo bem-humorado, ainda provocou gargalhadas ao simular o gesto de uma criança tentando mudar de assunto, passando o dedo na boca do avô, como quem tenta trocar o feed de uma rede social. Em sua visão, o momento atual não é apenas de transição, mas de sobreposição entre duas eras: “Vivemos a adolescência do futuro do trabalho. Ainda temos um pé no século XX, mas já estamos com os dois pés enfiados no XXI. E se em 2030 estivermos trabalhando como em 2025, vamos virar organização do tipo Plunct Plact Zum: que não vai a lugar nenhum.”

 

Ao final, deixou um recado que ressoou entre os presentes, de diferentes idades: “Não durma no ponto. Não morgue. Mergulha. Não precisa gostar das mudanças. Mas precisa entendê-las. E isso é o que vai garantir sua relevância nos próximos anos.” (foto/divulgação)

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SERVIÇO

Data: 24 a 27 de junho de 2025

Local: São Paulo Expo

Endereço: Rodovia dos Imigrantes, 1,5 km – Vila Água Funda, São Paulo (SP)

Horários: Terça a quinta-feira: 13h às 20h | Sexta-feira: 13h às 18h

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