Incentivos para acabar com a escassez de chips podem resultar em excesso da capacidade produção

O prazo para a entrega de semicondutores após a encomenda aumenta e atingiu 20,2 semanas na média em julho, com aumento de oito dias, conforme a Bloomberg, citandos dados de pesquisa realizada pela Susquehanna Financial Group. A escassez de microcontroladores, chips lógicos que controlam funções em carros, equipamentos industriais e eletrônicos domésticos, se tornou mais acentuada. Os prazos de entrega para esse tipo de chip são agora de 26,5 semanas, em comparação com um intervalo típico de seis a nove semanas. Já os tempos de entrega foram reduzidos para chips de gerenciamento de energia, semicondutores que regulam o fluxo de eletricidade em tudo, desde smartphones à geração de energia solar.
Claro, a escassez de semicondutores no mercado global afeta a cadeia de produção de indústrias dos mais variados setores, inclusive no Brasil. Sondagem da Abinee indica 12% dos fabricantes do setor tiveram que parar parte da produção em julho por falta de componentes eletrônicos. É o maior registro desde que, em fevereiro, a pesquisa começou a acompanhar o impacto da falta desses insumos no mercado. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que a falta de semicondutores tenha impedido a produção de 100 mil e 120 mil veículos no primeiro semestre no Brasil. Analistas de mercado acreditam que a crise de suprimentos de chips dure até o final de 2022.
Se hoje a escassez de preocupa, surge no horizonte a possibilidade de excesso de produção de semicondutores. É que vários países, incluindo EUA, China, Coreia do Sul e a União Europeia anunciaram incentivos bilionários para ampliar a produção de chips.
O senado dos EUA aprovou em junho passado um projeto de lei para apoiar o setor de semicondutores com recursos de US$ 190 bilhões. Quase US$ 52 bilhões serão alocados aos fabricantes para aumentar a produção.
O apoio do governo chinês para a indústria local de chips deve totalizar pelo menos US$ 100 bilhões nos próximos 10 anos, de acordo com a Semiconductor Industry Association (SIA). A China deseja que a indústria local atenda cerca de 70% das necessidades do mercado doméstico.
A União Europeia reservou cerca de US$ 160 bilhões para a indústria de semicondutores. As autoridades esperam aumentar sua participação de mercado dos atuais 20% para 30% até 2030.
A Coreia do Sul também planeja gastar US$ 450 bilhões na indústria de semicondutores para consolidar seu domínio no mercado na próxima década. Acredita-se que a Samsung terá um papel fundamental neste plano.
Uma das grandes preocupações é a China, que é o maior mercado de semicondutores do mundo, com vendas totais de US$ 151,7 bilhões em 2020, um aumento de 5% em relação ao ano anterior. De acordo com análise recente da agência de classificação de crédito Moody’s, os esforços de expansão da indústria de semicondutores da China podem aumentar os riscos de excesso de capacidade e ineficiência de investimento, prejudicando a meta do país de se tornar autossuficiente neste campo de alta tecnologia.
Os planos de investimento da indústria de semicondutores do governo podem levar a uma competição acirrada, resultando em excesso de capacidade de certos tipos de chips, começando com produtos menos sofisticados, diz o relatório da Moody’s.
O principal executivo da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co (TSMC), Mark Liu, declarou à imprensa que existe o risco de excesso de capacidade de produção principalmente para os semicondutores de tecnologia menos avançada. A TSMC é a maior produtora mundial de chips para terceiros.
Segundo Liu, a severa escassez de chips de 28 nanômetros, usados principalmente em veículos, se deve muito mais a um problema de alocação do produto e não à falta de capacidade de produção. De acordo com ele, a capacidade global de 28 nanômetros hoje supera a demanda do mercado. (Franco Tanio)