Eletrônica e Informática

Indústria brasileira encerra 2023 com uma expressiva redução nos investimentos em digitalização

Dados da Sondagem Transformação Digital nas Empresas Brasileiras mostram que o setor industrial encerrou o ano de 2023 com uma expressiva redução nos investimentos em digitalização.

 

De acordo com o estudo, fruto de uma parceria entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Fundação Getulio Vargas (FGV), no primeiro trimestre de 2023 o setor chegou a registrar 131,2 pontos no indicador, mas acabaria por sofrer três quedas consecutivas até atingir a marca de 116,7 pontos ao término do quarto trimestre do ano passado.

 

O indicador mede de 0 a 200 pontos. O patamar de 100 pontos é considerado neutro, valores inferiores significam desaceleração e valores superiores sinalizam aceleração dos investimentos.

 

A queda nos investimentos em digitalização do setor industrial foi fortemente influenciada pela baixa em segmentos como a metalurgia, que atingiu 92,5 pontos, o pior nível da série histórica, contra 156,9 no terceiro trimestre de 2022.

 

Na área de celulose e papel, por sua vez, o indicador chegou a 142,9 pontos no segundo trimestre de 2022 para encerrar o ano de 2023 em 106,9 pontos.

 

O segmento farmacêutico também foi outro a registrar o menor nível de todas as sondagens, fechando o ano passado em 105,7 pontos, contra os 158,8 do 1º trimestre de 2023.

 

De acordo com a avaliação dos pesquisadores, os resultados podem ser creditados a uma conjuntura que, apesar de condições macroeconômicas favoráveis, como alívio da inflação, redução do desemprego e queda da taxa de juros, apresenta também desaceleração no crescimento, com taxas negativas principalmente no investimento.

 

Isto vem prejudicando os investimentos em áreas que, em períodos difíceis, podem ser adiadas ou mesmo suspensas. De fato, quando avaliada a série histórica desde o início, a primeira metade de 2022, a pesquisa da ABDI e da FGV mostrava um foco crescente na digitalização em todos os setores.

 

No entanto, já no fim daquele ano e o início de 2023, a indústria  apresentava sinal de flutuação, com segmentos atingindo seu pico de investimentos e outros desacelerando ou estabilizando.

 

De fato, se nos primeiros trimestres do ano passado o nível do indicador de digitalização da indústria ainda era o maior entre os setores da economia, isto não ocorreu no último trimestre, com o setor de serviços alcançando o posto.

 

PLÁSTICOS – De qualquer forma, se a indústria como um todo viu retração nos investimentos em transformação digital, o mesmo não foi observado no segmento de produtos de plástico, que fechou 2023 com o maior nível de toda a série histórica analisada, com 135,5 pontos.

 

A expansão dos investimentos da indústria de plásticos na digitalização parece, inclusive, mais consistente que a média dos setores.A pesquisa já havia registrado um significativo crescimento entre o segundo e o terceiro trimestres do ano passado, quando o índice saltou de 100,2 para nada menos do que 131,2 pontos.

 

Os sucessivos aumentos que contrastam com o restante da indústria podem ser explicados pela extensão da cadeia produtiva e pelos desafios da circularidade no setor de plásticos.

 

O aumento significativo nos investimentos identificados está relacionado principalmente àqueles direcionados à circularidade, refletindo o engajamento e a visão da indústria em relação à importância de identificar soluções para o redesign, logística reversa e reciclagem dos materiais plásticos, entre outras atividades industriais.

 

Ou seja, empresas ao longo de toda a cadeia de valor, incluindo produtoras de resinas, transformadoras de plástico, recicladoras, proprietárias de marcas, entre outros tipos de empresa, estão enfrentando com ímpeto a necessidade de ajustar suas operações a novos modelos de negócios e práticas de circularidade.

 

Parte deste ambiente favorável aos investimentos em transformação digital deve-se também a programas de capacitação e desenvolvimento de habilidades para os funcionários, ampliação de projetos de certificação, reconhecimento a iniciativas nesta área e parcerias entre empresas do setor e fornecedores de tecnologia digital.

 

E há ainda projetos comuns a praticamente toda a cadeia produtiva, como o Recircula Brasil, que propõe a implementação de uma plataforma de rastreabilidade de resíduos do setor plástico desde sua origem até a fabricação de um novo produto, com foco em gestão e governança de informações.

 

A iniciativa não considera apenas o resíduo recuperado, mas o resíduo efetivamente reinserido na cadeia produtiva.

 

Para os pesquisadores da ABDI e da FGV, o exemplo do setor de plásticos devia ser seguido pelos outros setores da indústria, obviamente adaptando as medidas às características de cada área.

Afinal, segundo eles, em um contexto global onde a indústria adota cada vez mais tecnologias de integração da cadeia de fornecimento, como ferramentas de rastreabilidade, realidade aumentada, análise avançada de dados com inteligência artificial, dentre outras tecnologias habilitadoras da indústria 4.0, os setores que não buscarem se adequar ao uso dessas tecnologias perderão fatalmente espaço nos negócios.          (Alberto Mawakdiye)

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