Indústria brasileira reage de forma cautelosa ao tarifaço de Trump
A indústria brasileira reage com cautela ao tarifaço anunciado no dia 2 abril pelos Estados Unidos, que eleva em no mínimo 10% o imposto de importação para todos países. Os produtos brasileiros serão taxados em 10%, assim como os da Argentina e a maior parte dos países sul-americanos. Produtos da Venezuela serão taxados em 15%. Há casos de tarifas ainda mais elevadas, como sobre os produtos do Camboja (49%), Vietnã (46%), China (34%), União Europeia (20%). Japão (24%). Há também casos curiosos, como as remotas ilhas Heard e McDonald, que são territórios externos da Austrália, que são inabitadas. Mesmo assim, seus produtos serão taxados em 10%, conforme lista da Casa Branca. “Nenhum lugar na Terra está a salvo”, declarou o primeiro ministro da Austrália, Anthony Albanese.
O tarifaço, como esperado, foi mal recebido. Bolsas de valores despencaram em todo o mundo, o valor do dólar frente as principais moedas caiu e, pior, começa a ser falar em crise de confiança na moeda norte-americana, o que pode intensificar ainda mais a volátil situação econômica global, caso países como Japão, China e Coreia do Sul, além de países da União Europeia e árabes resolverem se desfazer dos títulos do tesouro dos EUA.
No Brasil, tanto governo como entidades representativas da indústria reagiram de forma comedida, como se pode observar nas notas divulgadas à imprensa pela Abimaq e pela CNI, a Confederação Nacional da Indústria.
“A Abimaq acompanhou a decisão anunciada, em 02 de abril, pelo Governo dos Estados Unidos de elevar a alíquota do imposto de importação em 10% para todos os países, além de aplicar uma tarifa adicional recíproca para países que apresentam elevados déficits comerciais.
As tarifas, segundo comunicado da Casa Branca, ficarão vigentes até que os déficits comerciais sejam resolvidos ou mitigados. Trump justificou essa nova medida como uma forma de aumentar a arrecadação e ao mesmo tempo reagir às tarifas aplicadas por outros países sobre produtos dos Estados Unidos. Com isso, ele busca pressionar os países a reduzirem suas taxas de importação ou ajustarem suas políticas comerciais. O objetivo, segundo ele, é fortalecer a economia americana, incentivando a substituição de importações pela produção local e promovendo investimentos no país.
Entendemos que alterações abruptas nas tarifas de importação tendem a resultar em insegurança comercial e econômica. Essa elevação de tarifa pode gerar impactos negativos significativos para nossa economia e para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos.
Do total da receita do setor de máquinas e equipamentos, cerca de 20% é direcionado ao mercado externo (exportação). Em 2024, exportamos US$ 13,2 bilhões, destes, 25% ou US$ 3,5 bilhões, foram direcionados para os Estados Unidos, equivalente a 7% da receita total do setor. O Brasil importou cerca de US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos de origem norte-americana, portanto somos deficitários.
Com a medida anunciada o Brasil será impactado negativamente em suas exportações para os Estados Unidos pois seremos menos competitivos em relação à indústria local de máquinas e equipamentos. Podemos citar como exemplo máquinas agrícolas, rodoviárias e máquinas para a indústria de transformação. Esses produtos, entre outros, são produzidos tanto pelo Brasil como pelos Estados Unidos, assim o aumento da tarifa significará perda de competitividade em relação aos produtos norte-americanos.
Sabemos que o governo brasileiro vem buscando resolver a questão por meio de negociações, o que para a ABIMAQ é o melhor caminho. Temos expectativas que tal decisão, no caso do Brasil, seja revista, a fim de que a relação comercial seja preservada.”
CNI – A CNI diz que o anúncio de tarifas adicionais de 10% sobre os produtos brasileiros, impostas pelo governo dos Estados Unidos, foi recebido com preocupação e cautela . Segundo a instituição, é preciso fazer uma análise detalhada das medidas divulgadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e insistir no diálogo para preservar uma relação bilateral histórica e complementar entre o Brasil e os EUA.
“Claro que nos preocupamos com qualquer medida que dificulte a entrada dos nossos produtos em um mercado tão importante quanto os EUA, o principal para as exportações da indústria brasileira. No entanto, precisamos fazer uma análise completa do ato. É preciso insistir e intensificar o diálogo para encontrar saídas que reduzam os eventuais impactos das medidas”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.
A tarifa adicional de 10% anunciada pelos EUA afetará todos os países e entrará em vigor no dia 5 de abril. Foram anunciadas também tarifas mais altas para países com os maiores déficits comerciais com os EUA, como China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%), a partir de 9 de abril.
No caso de aço, alumínio, e veículos e autopeças, prevalecerá a tarifa de 25%, anunciada recentemente.
MERCADO – Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras da indústria de transformação, especialmente de produtos de maior intensidade tecnológica, além de liderarem o comércio de serviços e os investimentos bilaterais. Somente em 2024, a indústria de transformação brasileira exportou US$ 31,6 bilhões em produtos para os EUA. Nesse ano, a cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA, foram criados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,6 bilhões em produção.
Um levantamento da CNI destaca os produtos mais exportados pelo Brasil aos Estados Unidos. De 20 itens analisados, em 13, os EUA são os principais compradores do produto brasileiro.
Confira os principais produtos exportados aos EUA e a participação na exportação total:
Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos – os EUA são destino de 11,5% das exportações do produto;
Outros produtos semimanufaturados, de ferro ou aços, não ligados, contendo em peso < 0,25% de carbono, de seção transversal retangulares – os EUA lideram como destino de 74,5% das exportações desse produto;
Ferro fundido bruto não ligado, contendo, em peso <= 0,5% de fósforo – os EUA lideram como destino de 71% das exportações do produto;
Café não torrado, não descafeinado – os EUA são destino de 18% das exportações do produto;
Aviões e outros veículos aéreos, de peso > 15.000 kg, vazios – os EUA lideram como destino de 54,5% das exportações do produto;
Pasta química de madeira de não conífera, à soda ou sulfato, semibranqueada ou branqueada – os EUA são destino de 14,7% das exportações do produto;
Produtos semimanufaturados, de outras ligas de aços – os EUA lideram como destino de 94,9% das exportações do produto;
Outros óleos de petróleo ou de minerais betuminosos e preparações, exceto desperdícios – os EUA são destino de 7,1% das exportações do produto;
Aviões e outros veículos aéreos, de peso > 2.000 kg e <= 15.000 kg, vazios – os EUA lideram como destino de 97,4% das exportações do produto;
Bulldozers e angledozers, de lagartas, autopropulsores – os EUA lideram como destino de 58,7% das exportações do produto;
Carregadoras e pás carregadoras, de carregamento frontal, autopropulsores – os EUA lideram como destino de 57,3% das exportações do produto;
Carnes de bovino, desossadas, congeladas – os EUA são destino de 4,6% das exportações do produto;
Madeira de coníferas, perfilada – os EUA lideram como destino de 98% das exportações do produto;
Óleos leves e preparações – os EUA lideram como destino de 46,7% das exportações do produto;
Preparações alimentícias e conservas, de bovinos – os EUA lideram como destino de 59,7% das exportações do produto;
Minérios de ferro aglomerados e seus concentrados – os EUA são destino de 12,8% das exportações do produto;
Óxidos de alumínio, exceto corindo artificial – os EUA são destino de 13,8% das exportações do produto;
Sucos de laranja não congelados, não fermentados, com valor Brix <= 20 – os EUA lideram como destino de 54% das exportações do produto;
Outras partes para motores diesel ou semidiesel – os EUA lideram como destino de 30,8% das exportações do produto;
Niveladores – os EUA lideram como destino de 45,3% das exportações do produto.
MISSÃO AOS EUA – Com objetivo de estreitar laços e buscar soluções de interesse comum com os EUA, a CNI levará um grupo de empresários brasileiros ao país na primeira quinzena de maio. A expectativa é que a comitiva se reúna com representantes da indústria e do governo norte-americano para discutir agendas de facilitação de comércio e abertura de mercados de forma equilibrada.
“Reiteramos a disposição da indústria de contribuir com as negociações com os parceiros americanos. A missão empresarial estratégica para os EUA tem justamente o objetivo de aprofundar o relacionamento e discutir caminhos para fortalecer a cooperação e o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, explica Ricardo Alban.
TARIFA REAL – A tarifa média efetivamente aplicada aos produtos dos EUA exportados para o Brasil foi de apenas 2,7% em 2023, um percentual significativamente inferior à média da tarifa nominal brasileira, que é de 11,2%, conforme consolidado da OMC.
Superávit no comércio de bens: na última década, os Estados Unidos nunca registraram um déficit comercial com o Brasil. O superávit acumulado no comércio de bens a favor dos EUA nos últimos dez anos alcançou US$ 91,6 bilhões;
O Brasil se destaca como um dos poucos países entre as principais economias com os quais os EUA mantêm um superávit persistente no comércio de bens, contrastando com o déficit geral que o país norte-americano registra no comércio de bens com outros parceiros comerciais.