Mitsui fecha acordo de compra da SuperVia
Depois ter permanecido à venda durante nada menos do que dois anos, os direitos de concessão da SuperVia, empresa que opera os trens urbanos na capital e em outros 11 municípios do estado do Rio de Janeiro, vão finalmente ter novos donos.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça e que regula a concorrência no Brasil, recomendou, no último dia 6 de março, a aprovação do negócio entre o conglomerado japonês Mitsui e a Odebrecht TransPort, a atual controladora da SuperVia.
O acordo, que vem sendo discutido pelas duas partes há mais ou menos um ano e deve ser concluído no final do próximo mês de abril, poderá envolver valores estimados por especialistas do mercado em cerca de R$ 800 milhões.
O negócio será feito exclusivamente à base de compra e venda de ações. Após a conclusão da transação, a Odebrecht TransPort, do Grupo Odebrecht, vai reduzir a sua participação na SuperVia de 72,8% para 11,33% dos papéis da concessão. Já a Mitsui – através de sua controlada Gumi – ficará com os 88,67% restantes.
Diga-se que a Mitsui já participava de forma indireta da posse da SuperVia. O grupo, juntamente com outras duas empresas japonesas, detém 40% das ações da Odebrecht Mobilidade que, por sua vez, é dona de um naco das ações da SuperVia.
Falta ainda o negócio ser aprovado pelo governo fluminense (cedente da concessão ferroviária) e pelos bancos Bradesco e Itaú, para os quais a SuperVia deve cerca de R$ 1,5 bilhão. Mas estes agentes não deverão constituir-se em obstáculo.
A expectativa do setor de mobilidade urbana é que, com o novo dono, mais capitalizado, a SuperVia consiga aumentar os investimentos e equacionar suas dívidas. Espera-se ainda a rápida melhora da qualidade dos serviços. A empresa vem sofrendo críticas cada vez mais severas dos usuários por conta do excesso de lotação, principalmente nos horários de pico, e da redução da oferta nos fins de semana.
VENDAS CASEIRAS – Uma das dúvidas do Cade quanto à idoneidade do negócio entre a Odebrecht e a Mitsui era uma potencial integração entre a Mitsui e a Supervia para a compra de produtos do grupo japonês. No final, o Cade acabou por concluir que esta possibilidade não deveria gerar preocupação de ordem concorrencial, pois a participação da Mitsui no segmento ferroviário no Brasil não é muito grande.
Até hoje, a companhia apenas forneceu alguns equipamentos e composições para o metrô de Salvador, na Bahia, e vem desenvolvendo pequenos projetos para o metrô de São Paulo. A participação do grupo é maior no setor automotivo. Através de uma empresa chamada Veloce, a Mitsui há anos fornece soluções para as montadoras, principalmente importando peças, e presta serviços de logística.
Além da área de transporte, a empresa tem atuação na indústria química, no setor de energia e de tecnologia da informação. Na área de alimentos, a Mitsui comercializa a marca Café Brasileiro e é dona da Agrícola Xingu, empresa que atua no agronegócio por meio do cultivo de lavouras na produção de commodities agrícolas e processos industriais para o beneficiamento de algodão e sementes de soja.
Nos dois anos em que esteve à venda, a SuperVia chegou a ser analisada pelo fundo soberano dos Emirados Árabes, o Mubadala, por um consórcio formado pela brasileira Starboard Restructuring Partners e o fundo americano Apollo, e pelo grupo brasileiro RTM Brasil, composto por executivos do setor financeiro e de transporte.
Em atividade desde 1998, quando venceu a concorrência aberta pelo governo do Rio de Janeiro para operar e manter a malha ferroviária do Grande Rio, a SuperVia administra uma rede de 270 km de vias férreas, com 8 linhas e 102 estações, várias delas ainda em situação bastante precária. A companhia transporta uma média de 750 mil passageiros diariamente, com uma oferta de 204 trens. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: reprodução)
FONTE: IPESI