Metal Mecânica

Nearshoring pode render até US$ 8 bilhões para o Brasil

A América Latina poderá incrementar suas exportações em US$ 78 bilhões anualmente por meio do crescimento do movimento “nearshoring”, prática de reaproximação das cadeias de produção globais, nos próximos anos, de acordo com estudo da consultoria estratégica alemã Roland Berger.

O Brasil, segundo colocado da lista de maiores beneficiados em potencial dessa tendência na região – atrás apenas do México -, pode aumentar suas exportações em US$ 8 bilhões como benefício dessa reorganização logística global. “Nearshoring” e “onshoring”, que se referem respectivamente à exportação para países próximos e à produção dentro do próprio mercado final, vêm ganhando impulso após os impactos causados pela pandemia da Covid-19, a disputa comercial entre Estados Unidos e China e a guerra na Ucrânia, que incide diretamente no preço da energia e no acesso às commodities.

O Brasil pode se dar bem nesse contexto ao combinar fatores importantes. “O país tem expressivo mercado consumidor, relações comerciais bem estabelecidas com América Latina e EUA, alta capacidade produtiva, acesso a matérias-primas e uma matriz energética renovável robusta”, diz Cristiano Doria socio-diretor de Indústria, da Roland Berger.

Um dos segmentos da economia brasileira que mais poderia se aproveitar dos processos “nearshoring” e “onshoring” é o automotivo. Em retomada após sofrer o impacto da pandemia e da crise de semicondutores, o setor ainda encontra um mercado interno com potencial de consumo limitado, o que faz com que haja uma capacidade produtiva ociosa de cerca de 2 milhões de veículos ao ano.

Nesse cenário, em que as exportações de veículos e autopeças – cujo volume financeiro movimentado cresceu 38% e 26% entre 2021 e 2022, respectivamente – têm se recuperado mais rápido do que as vendas para o mercado interno, mostrando que o país tem um terreno fértil para a produção e exportação desses produtos, característica que pode ganhar ainda mais destaque com a prática do “nearshoring”.

Por outro lado, o “onshoring” tende a afetar diretamente a indústria de autopeças. Atualmente, as importações chegam a US$ 19 bilhões ao ano, valor que pode ser mitigado caso se invista na produção local. Há outras vantagens ao se fazer isso, já que encurtar as cadeias produtivas também ajuda a reduzir riscos.

Exemplo concreto de como o Brasil pode se beneficiar com o “nearshoring” e o “onshoring” são os recentes investimentos de fabricantes automotivos chineses no Brasil, um movimento que não apenas incrementa consideravelmente a oferta de veículos híbridos e elétricos no país, mas como também motiva a competição e os tornam mais acessíveis ao mercado interno.

Esses fabricantes, no entanto, não têm interesse apenas em produzir para o mercado brasileiro, mas também fazer com que o país seja uma espécie de hub automotivo regional. A ideia é se aproveitar do fato de que, enquanto a busca por veículos híbridos e a combustão cai em países desenvolvidos devido à eletrificação mais intensa da frota, em regiões como a América Latina o processo é mais brando e a demanda por híbridos e veículos à combustão tende a se manter.

O estudo da Roland Berger apresenta outros destaques. Entre eles, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia pode não ser tão vantajoso se a indústria brasileira não for capaz de diminuir o atraso de competitividade em relação à europeia. Tomando como exemplo a frente automotiva brasileira, ela pode perder fatias tanto internamente quanto em mercados-chave dentro do Mercosul.

Outro fator de risco é o chamado “Custo Brasil” – um misto de elevada carga tributária, alta complexidade fiscal e tributária, insegurança jurídica e altas taxas de juros -, que prejudica a competitividade nacional e dificulta investimentos estrangeiros na indústria brasileira. “Para aproveitar as oportunidades oferecidas pela reaproximação das cadeias produtivas, é necessário um fortalecimento de todo o ecossistema industrial do país. Esse é o principal aspecto para que o Brasil saia na liderança desse movimento e aproveite a onda para se beneficiar dele”, pontua o diretor da Roland Berger.

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