Eletrônica e Informática

Painéis fotovoltaicos para baratear a conta de luz em áreas de estacionamento

 

Os carros elétricos ainda mal chegaram ao Brasil – hoje, só estão à venda pouquíssimos modelos importados, todos para o público de classe A – mas já há quem esteja pensando em instalar áreas de estacionamentos voltadas para eles.

Uma empresa de tecnologia de Belo Horizonte (MG), o Centro Suíço de Eletrônica e Microtécnica (CSEM Brasil) – que é fruto de uma parceria do governo suíço com indústrias, universidades e institutos de pesquisa de todo o planeta para a produção de tecnologia em larga escala – está desenvolvendo, juntamente com a multinacional de energia AES, o Projeto Carport, cujo objetivo é fabricar estacionamentos modulares capazes de gerar energia para os carros elétricos.

No entanto, trata-se também de uma tecnologia do presente, já que ela pode ser usada sem problema algum pelos estacionamentos convencionais, que abrigam os também cada vez mais convencionais carros movidos a álcool ou a gasolina.

Sim, há outros projetos parecidos espalhados pelo país – área de estacionamento e energia solar parecem mesmo ter nascido uma para a outra, já que esta é uma ótima opção para reduzir os gastos com a conta de luz neste tipo de estabelecimento, cujos custos são singularmente altos em determinadas regiões.

Mas o detalhe do Projeto Carport é que, além de não prever o uso da energia convencional – aquela produzida por hidrelétricas ou termelétricas – aposta não só na energia solar de origem fotovoltaica, mas também na sua modalidade mais moderna, a tecnologia OPV, sigla em inglês para polímeros orgânicos fotovoltaicos.

A tecnologia OPV produz energia solar de baixíssimo custo com a menor “pegada” de carbono possível. Nela, utiliza-se um filme leve, flexível e transparente (pode chegar a até 50% de translucidez). Esses filmes orgânicos constituem a terceira geração dos sistemas fotovoltaicos, em termos tecnológicos e mercadológicos.

Até agora, o mercado tem utilizado, principalmente, as placas rígidas de silício amorfo, que constituem a primeira geração, e os chamados “filmes finos”, que constituem a segunda geração, mas utilizam em seu processo o silício amorfo ou telureto de cádmio – um material tóxico. Já os OPVs são formados, basicamente, por uma combinação de tintas orgânicas, abundantes na natureza. O material vem sendo utilizado no Brasil principalmente em edificações comerciais, e em pequena escala.

“Um estacionamento que gera energia fotovoltaica é o que faz mais sentido hoje”, explica Rodrigo Vilaça (foto), líder do projeto no CSEM Brasil. “De que adianta um carro elétrico alimentado por energia convencional? É como se estivéssemos substituindo o óleo do carro pelo óleo da termelétrica. O mais lógico é investir em um sistema gerador de energia que não provoque dano algum ao ambiente”, acrescenta.

PROTÓTIPO – Atualmente, o Projeto Carport ainda está na fase do desenvolvimento dos protótipos, com foco especialmente na definição de um naipe de designs que torne os kits do estacionamento facilmente adaptáveis aos vários tipos de edificações urbanas, aproveitando as características técnicas peculiares das placas OPV. Estas hoje são fabricadas no país pela empresa Sunew, também de Belo Horizonte, e do qual o CSEM Brasil é um dos sócios fundadores. O CSEM é o responsável pelo desenvolvimento da tecnologia necessária para a produção dos filmes de OPV, 100% feita no Brasil.

Inaugurada em novembro de 2015, a Sunew iniciou sua produção em julho de 2016, após ajustes e testes em máquinas e equipamentos. É a primeira empresa da América Latina a produzir filmes fotovoltaicos orgânicos em larga escala e no tamanho de 50 cm de largura, e tem capacidade para fazer até 400 mil m²/ano de filmes OPV.

A ideia é de que o estacionamento seja de baixo custo, de instalação fácil e prática e dotado de beleza estética. A leveza do material está ajudando muito em todos estes aspectos. As tecnologias fotovoltaicas tradicionais empregam um material pesado – cerca de 20 kg por m² – e exigem uma estrutura muito mais robusta, aumentando os custos de produção e instalação, e dificultando sua popularização.

Já com as placas OPV, o peso cai para apenas 400 g por metro quadrado. O material também é flexível e transparente, o que abre espaço para um design futurista e atrativo. E, em breve, ele ainda estará disponível em uma imensa gama de cores.

O produto deverá estar disponível para o mercado até o final do ano, acredita Vilaça. A princípio, a ideia da empresa é comercializá-lo no segmento corporativo, como shopping centers, lojas, aeroportos e estabelecimentos similares. O passo seguinte será oferecê-lo para o consumidor final. “Queremos vender os kits do Carport em lojas de construção como a Leroy Merlin, para que o consumidor possa escolher o modelo que ele desejar, levá-lo para casa e instalá-lo onde quiser”, esclarece Vilaça.

Mas a CSEM Brasil também está de olhos abertos para o futuro imediato – no qual os carros elétricos poderão predominar. De fato, previsões dão conta de que já em 2025 os automóveis elétricos representarão 15% do mercado mundial. Muitos países, inclusive, já anunciaram que, na próxima década, só permitirão a fabricação de carros propulsionados por eletricidade.

Trata-se de uma tendência que parece irreversível, e essa vontade política – de trocar os combustíveis fósseis dos automóveis por uma energia substancialmente limpa – torna irrelevante o fato de que hoje os carros elétricos ocupem uma fatia de reles 0,86% do mercado. As montadoras terão, mais cedo ou mais tarde, de se curvar.

Por isso, os estacionamentos Carport também estão sendo desenvolvidos com a expectativa do aumento da quantidade desses veículos no mundo e, naturalmente, no Brasil. Os Carports serão, obviamente, capazes de gerar energia, e através de tomadas poderão reabastecer os carros elétricos enquanto eles estão estacionados. Realmente, muito prático, quando se pensa que ainda vai demorar muito para que postos de abastecimento de energia elétrica sejam implantados em número suficiente no país. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)

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