Risco da introdução de chips falsificados nas cadeias de produção cresce

A crise de suprimentos de semicondutores abre espaço no mercado mundial para os chips falsificados. O volume de denúncias ainda não cresceu, mas isso pode acontecer em breve, já que muitos fabricantes acabam buscando fontes alternativas de suprimentos de chips para manter suas linhas de produção funcionando.
A comercialização de chips e outros componentes eletrônicos “fake” não é um problema é novo. Para se ter ideia, até a poderosa indústria de defesa dos Estados Unidos enfrentou uma verdadeira inundação de chips falsificados. Uma investigação realizada pelo senado do país em 2012 descobriu que mais de um milhão de peças eletrônicas falsificadas, provenientes da China, foram usadas em equipamentos projetados para a Força Aérea, a Marinha e para as Operações Especiais.
O mercado de global de chips falsificados vem crescendo e em 2019 era avaliado em US$ 75 bilhões. E, pior, tais chips foram utilizados em dispositivos eletrônicos avaliados em mais de US$ 169 bilhões, de acordo com artigo de Paul Karazuba, publicado em agosto passado no site https://semiengineering.com/. “Incidentes recentes confirmados de peças falsificadas encontradas em sistemas eletrônicos incluem desfibriladores, luzes de pouso de aeroportos, máquinas de gotejamento intravenoso e sistemas de freio para trens de alta velocidade. Como os dispositivos eletrônicos são essenciais para quase todos os aspectos da vida moderna, o risco de falsificações pode ir de um inconveniente a ferimentos ou morte”, escreve.
O que pode abrir mais espaço para os semicondutores falsificados é o crescente aumento no prazo entrega. Matéria da Bloomberg de 24 de junho, citando dados da Susquehanna Financial Group, indica que os prazos de entrega de componentes eletrônicos aumentaram sete dias chegando a 18 semanas em média no mês de abril. Esse prazo seria o mais longo desde que a companhia começou a rastrear esse tipo de dados em 2017. Também é mais de quatro semanas superior ao pico de 2018. Porém, algumas categorias de semicondutores tiveram prazos de entrega ainda maior: chips para gerenciamento de energia chegaram a ter prazo de entrega a 25,6 semanas.
Imagine-se uma empresa que necessita cumprir seus prazos de entrega e não encontra os componentes eletrônicos necessários. Esperar mais de quatro meses, claro, pode não ser uma opção. Então, muitos podem buscar fontes alternativas de fornecimento e acabar caindo nas mãos de comerciantes desonestos. Assim, é importante que o comprador procure sempre empresas com boa reputação no mercado e que, de preferência, sejam distribuidores autorizados pelos fabricantes de componentes. É interessante também buscar distribuidores que tenham sistemas para rastrear o componente eletrônico.
Dados da Susquehanna Financial Group indicam que há escassez de componentes-chave, como os destinados ao gerenciamento de energia, componentes discretos, analógicos e passivos, que têm os prazos de entrega cada vez mais longos.
Os prazos de entrega para microcontroladores, pequenos processadores que controlam funções em tudo – de veículos a máquinas de lavar – diminuíram em mais de uma semana. Já os prazos para chips analógicos, dispositivos que convertem fenômenos do mundo real, como toque e som em sinais eletrônicos, aumentaram, mas em um ritmo mais lento do que antes.
Já componentes optoeletrônicos, incluindo chips que ajudam a converter energia solar em eletricidade em painéis solares, são cada vez mais difíceis de encontrar.
PROCESSOS DE FALSIFICAÇÃO – Semicondutores fake muitas vezes são aqueles encontrados no mercado cinza e são versões de produtos autênticos. Não é raro que esses semicondutores surjam do excesso de produção e de produtos que apresentam falhas e foram descartados. Muitos desses chips funcionam de forma similar aos autênticos, mas apresentam riscos por ser impossível garantir a confiabilidade.
As falsificações também são frequentemente recolhidas do lixo eletrônico, sem qualquer controle. Tais chips apresentam elevadas taxas de falhas e não raramente falham já nos testes elétricos. Podem também durar dias ou até anos nos produtos manufaturados. Ou seja, o comportamento é imprevisível.
Se esses semicondutores falsificados já são perigosos, há uma outra modalidade com potencial de causar danos ainda maiores – a dos chips maliciosos. Há produtos falsificados que têm a aparência idêntica a dos chips autênticos – com empacotamento, marcações e interfaces elétricas bem executados – tornando praticamente impossível fazer a distinção visual entre o produto real e o falsificado. Frequentemente, não há como entender como esses chips irão funcionar até que seja muito tarde, segundo Karazuba.
Esses chips maliciosos podem extrair, corromper dados ou causar mau funcionamento do sistema. Dada a crescente complexidade dos SoCs, é muito difícil detectar funções maliciosas ocultas entre as funções legítimas para as quais o chip se destina. A origem de tais chips e a intenção de seus fabricantes podem permanecer totalmente sem detecção depois de introduzidos na cadeia de abastecimento.
O impacto dos chips maliciosos pode ser devastador, pois o mundo é cada vez mais dependente da informática e da eletrônica. Um processador malicioso em um caça avançado poderia registrar a telemetria que um adversário poderia usar para desenvolver defesas de mísseis terra-ar. O código não autorizado dentro de um chip falso pode expor uma rede à invasão de cibercriminosos. Um criminoso pode usar malware dentro de um chip falsificado para assumir remotamente o controle de um carro ou bloquear seus sistemas em um ataque de ransomware. A infinidade de maneiras pelas quais um semicondutor falsificado pode nos afetar catastroficamente é enorme. (Franco Tanio)