Unicamp e Petrobras lançam projeto para fomentar startups de alta tecnologia no setor de energia
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Petrobras assinaram no dia 28 de maio, em Campinas (SP), um acordo inédito de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para impulsionar a cadeia de energia, óleo e gás no país. Com duração de três anos, o projeto que recebeu o nome de Enfuse (Entrepreneurship for Future and Susteinable Energy) é voltado à criação de startups de alta tecnologia, conhecidas como hard techs, no setor de energia.
A iniciativa busca desenvolver e validar metodologias de gestão eficazes para um programa de formação de recursos humanos técnicos e de empreendedores, que possa ser replicável em outras regiões do país. O objetivo é fortalecer o setor energético brasileiro – a cadeia nacional de fornecedores de alta tecnologia – fomentando o desenvolvimento de empresas de base científica e tecnológica que poderão fornecer soluções inovadoras para o setor.
“Nosso maior desafio é transformar pesquisa de ponta em soluções práticas para o setor. Se a metodologia se mostrar eficaz, ela poderá ser adotada em todo o país, ajudando o Brasil a se tornar um polo de desenvolvimento de empresas de tecnologias energéticas”, explica o professor Marcelo Souza de Castro, diretor do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro) da Unicamp e coordenador do projeto de PD&I.
O acordo de pesquisa da Unicamp aprovado na chamada 1746/2024 da Petrobras será executado pelo Centro de Estudos em Energia e Petróleo da Unicamp (Cepetro), em parceria com a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp), o Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) e a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp).
A Unicamp foi selecionada pela Petrobras, entre 16 instituições de ciência, tecnologia e inovação (ICTs) do Brasil, para desenvolver o projeto inédito de PD&I. Além das metodologias em capacitações a serem desenvolvidas e testadas, o acordo planeja incluir a concessão de bolsas acadêmicas, incubação de soluções de base científica e tecnológica e a preparação de futuros fornecedores para a indústria nacional. O programa de gestão e desenvolvimento dessas startups será integrado à formação de graduação e pós-graduação da Universidade, com ensino de empreendedorismo tecnológico e gestão da inovação.
“Apesar do forte investimento em pesquisa no setor de energia, há um descompasso na geração de startups: das 870 deep techs no Brasil, segundo estudo da Emerge, apenas 5% atuam com energia, concentrando-se a maioria em saúde e agricultura. Esse paradoxo – de muito investimento e pouca criação de fornecedores nacionais baseados em ciência no setor – é o que queremos enfrentar”, observa o professor Ruy Quadros, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, responsável pelo diagnóstico e mapeamento de ecossistemas de inovação dentro do projeto.
O pioneirismo e experiência acumulada em inovação e empreendedorismo tecnológico da Unicamp serão pilares essenciais do projeto. A Agência de Inovação Inova Unicamp, que será responsável pela capacitação e incubação de negócios, também estará envolvida. A Agência foi fundada em 2003 e é responsável pela gestão do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp). Também atua de forma integrada na proteção da propriedade intelectual, transferência de tecnologias, parcerias universidade-empresas e comunicação especializada para a promoção da cultura da inovação e empreendedorismo.
“O programa de incubação da Incamp já apresenta taxa de sobrevivência acima de 61,9% das startups graduadas ao longo de seus 23 anos, e de 77,4% quando falamos apenas nas deep techs. Esses números são muito superiores à média nacional, que segundo a Fundação Dom Cabral, é de apenas 25% após treze anos. Com essa iniciativa, esperamos fortalecer esse histórico, sistematizar e otimizar nossas estratégias, e expandir a metodologia para outras instituições”, afirma o professor Renato Lopes, diretor-executivo da Inova Unicamp, que lidera a etapa de tutoria e incubação de startupsç
FORMAÇÃO – Ao longo de três anos, espera-se que o programa forme empreendedores com potencial para criar soluções reais para o setor de energia – desde a indústria de óleo e gás até fontes renováveis como o hidrogênio. Além de fomentar o empreendedorismo tecnológico, o projeto também poderá influenciar políticas públicas.
A primeira fase do programa prevê a seleção de 50 participantes – entre alunos de graduação, pós-graduação e empreendedores de diversas regiões do Brasil — distribuídos em grupos que testarão diferentes abordagens de formação. Parte do trabalho inclui visitas a ecossistemas de inovação de referência em países como os Estados Unidos, China, Noruega entre outros, bem como ecossistemas nacionais, para mapear boas práticas e adaptá-las à realidade brasileira.
“Vamos analisar ecossistemas nacionais e internacionais para identificar melhores práticas e modelos de sucesso, mas também barreiras legais que dificultam o empreendedorismo no Brasil. Com essa análise comparativa, podemos sugerir melhorias na legislação, visando um ambiente mais favorável à inovação e ao desenvolvimento de novas empresas”, explica a professora Ana Frattini, pró-reitora de pesquisa da Unicamp, que participou do desenvolvimento do projeto.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA – Além de fortalecer a cadeia nacional de fornecedores e contribuir para as metas de conteúdo local estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o acordo de PD&I deve contribuir para a transição energética e incentivo às soluções baseadas em novas energias, alinhado ao compromisso brasileiro de alcançar as metas de sustentabilidade do setor energético e aos objetivos globais para a transição para uma economia de baixo carbono.
Ao fim de três anos, espera-se a entrega de uma metodologia validada para formação de empreendedores e um diagnóstico robusto do ecossistema nacional. A proposta poderá ser escalada para investimentos ainda maiores, com a criação de hubs regionais de inovação no setor energético, um celeiro para startups de energia.