Desempenho do PIB do Brasil no biênio 2020/21 será inferior ao de 127 países
Cálculos feitos pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a partir de dados contidos no mais novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o desempenho da economia global no biênio 2020/21, não trouxe boas notícias para o Brasil.
Apesar de o FMI ter revisado para cima as previsões sobre o país divulgadas alguns meses atrás, o cenário brasileiro continua bastante ruim. A previsão é de uma retração de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, seguida da expansão de 2,8% em 2021. Assim, na média, a economia nacional encolheria 1,6% em cada ano.
É um dos desempenhos mais fracos dentre as economias do planeta. De acordo com o estudo, 127 países terão desempenho melhor do que a economia brasileira em 2020 e 2021.
Esse grupo representa 66% do universo de 193 nações para as quais o FMI faz estimativas a cada seis meses. Ou seja: se a lista do FMI fosse a tabela de um campeonato, o Brasil estaria hoje lutando contra o rebaixamento.
Caso as expectativas do FMI sejam confirmadas, o Brasil terá recessão mais forte do que a observada tanto nos países avançados como na maior parte dos países em desenvolvimento.
Nos países avançados, a economia deve recuar 1,1% ao ano, em média, neste ano e no próximo. A comparação com os países emergentes, quando considerados como grupo, é ainda mais negativa para o Brasil. Devido à pujança da China, a economia do grupo deve crescer 1,3% na média anual.
AMÉRICA LATINA – Se servir de consolo, o Brasil estará pelo menos bem posicionado na comparação com seus vizinhos da América Latina, já que o FMI prevê uma retração média de 2,5% para o PIB do continente em 2020 e 2021.
Deve-se esta vantagem, no entanto, tanto a um fator positivo – os expressivos estímulos fiscais e monetários bancados pelo governo Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus – como a um outro bastante negativo, representadas pelas medidas de distanciamento social comparativamente muito mais brandas e ineficientes do que as adotadas no restante do subcontinente. Elas foram responsáveis pela alta mortalidade registrada no país, 150 mil mortos até o começo do mês de novembro.
De qualquer forma, o PIB mundial deve ficar em terreno positivo no período, com uma alta média de 0,3% nos dois anos nas estimativas do FMI. Essa expansão, no entanto, deve ser puxada por poucos países, com destaque para a China, única grande economia que deve crescer neste ano (1,9%).
Segundo o relatório do FMI, somente um terço (34%) das economias analisadas vai reaver todas as perdas de 2020 no ano que vem. O Brasil, assim, não estaria isolado ao terminar 2021 com o PIB ainda 3% aquém do nível de 2019, o que também serve de algum consolo.
Apesar do prognóstico menos pessimista para o Brasil, o FMI ainda tem perspectivas mais comedidas do que as dos economistas de mercado. Pela média de estimativas coletadas pelo Banco Central no boletim Focus, o PIB brasileiro vai cair 5% em 2020 e crescer 3,5% em 2021, o que resultaria em perda média anual de 0,9% no período.
Considerando as previsões mais otimistas do Focus, o percentual de países acompanhados pelo FMI que teria desempenho superior ao do Brasil neste ano e no próximo diminuiria para 48%. Ressalta-se que órgãos como o FMI e o Banco Mundial fazem projeções com certa defasagem, ao passo que o boletim do Banco Central é atualizado semanalmente. (Alberto Mawakdiye)