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Indústria 4.0 e IoT: uma transformação muito mais do que digital

Walter Sanches  (*)

A informatização e o alto nível de conectividade, que juntos dão origem ao conceito de IoT (Internet das Coisas), estão cada vez mais em pauta em todos os segmentos da economia. E não é diferente na indústria, setor no qual são crescentes os burburinhos em relação ao que é a Indústria 4.0 e como ela impacta no dia a dia das empresas e em seus processos fabris.

O termo indústria 4.0 nasceu na Alemanha e contempla medidas que visam aumentar e recuperar a competitividade industrial, usando como meio a aplicação de tecnologias, como a IoT, no chão de fábrica. Porém, não estamos falando de uma implantação propriamente dita, mas de uma jornada para melhoria da produtividade, sempre tirando proveito dos benefícios que o mundo digital pode trazer. Em minha visão, não se trata de um pacote que se compra, mas sim de um conceito bastante amplo para aplicar tudo que o “mundo digital” pode oferecer ao “chão de fábrica”. E isso, sem dúvida, envolve uma grande mudança de paradigma que, assim como tudo, tem prós e contras.

Primeiramente, a IoT e a transformação digital criam uma necessidade ainda maior de garantir que todas as informações relacionadas à produção estejam protegidas e não extrapolem barreiras, indo além de quem pode visualizá-las. Fora as questões de espionagem industrial, o cuidado deve ser redobrado quando ingressamos no mundo digital e na indústria 4.0. Códigos maliciosos, cavalos de troia e outras ameaças veladas podem mudar a ordem de produção e até parar máquinas. Se isso já é desastroso hoje, imaginemos em um cenário 100% conectado, no qual qualquer falha de comunicação pode causar uma desorganização geral, atrasos em entregas, mudanças de rotas e muitos outros problemas. Por isso, esse cenário requer a adoção de controles específicos.

Outro ponto importante é que, ao mesmo tempo em os ativos digitais já estão sendo reconhecidos por sua relevância para os negócios, eles ainda são tratados em muitas companhias como caixas pretas, ou seja, ainda predomina o desconhecimento acerca do real valor deste patrimônio. Assim, poucos ativos estão sob uma gestão mais organizada, o que demanda, de certa forma, uma mudança de comportamento por parte dos gestores, mesmo aqueles que não estão ligados diretamente à tecnologia.

Além disso, a Indústria 4.0 também envolve desafios relacionados à gestão dos recursos humanos, pois as competências terão que estar alinhadas com o uso de Big Data, robôs autônomos, simulação, integração de sistemas, IoT, segurança cibernética, computação em nuvem, manufatura aditiva (impressão 3D), realidade aumentada e outros conceitos que passarão a ser largamente utilizados nos próximos anos. Inclusive, uma pesquisa da McKinsey apontou justamente isto: que o desafio nesse cenário todo é de caráter cultural e de comportamento. Afinal, são pessoas que decidem e influenciam a adoção de novas tecnologias.

Mas, e o Brasil? Conquanto seja difícil fazer comparações, a situação por aqui em termos de competitividade ancorada pela tecnologia, mesmo em se tratando do maior mercado da América Latina e Caribe, não é das melhores, o que fica evidente no The Global Competetiveness Report 2016-2017 – World Economic Forum.

Desta forma, para avançar nessa jornada, o primeiro passo para tornar um processo digital é “desmaterializá-lo” (acho que este termo ainda não consta em dicionários, mas gosto de usar essa palavra), ou seja, tirar suas características físicas e excluir tudo o que impede o crescimento exponencial, característico do “mundo digital”. E para isso, é preciso estudar o processo e encontrar formas de automatizá-lo e até mesmo de simplificá-lo. A partir daí, todos os componentes do processo passam a fluir muito rápido, tanto a circulação de documentos como a obtenção de informações sobre o processo para uso em Analytics, Big Data, entre outros. E nesse ponto, emergem benefícios, como rapidez na execução e controle nas variáveis do processo, como identificação de melhorias a partir dos dados gerados e a possibilidade de analisar tudo o que acontece no seu ambiente fabril com base nessas informações.

É todo esse embasamento analítico que concede à indústria 4.0 o poder de abranger e ingressar em mercados até então inéditos e vender para outros países. As necessidades dos clientes ficam muito mais evidentes e também podem ser muito melhor atendidas. Quebra-se um pouco o conceito de produtos fechados e de unidades de manutenção de estoque (SKU, sigla em inglês) e tudo se volta às especificidades. A produção pode ser mais diversificada, as vendas mais consultivas e flexíveis e as respostas mais rápidas, respondendo a tal jornada do cliente. Será tudo isso também que preparará as empresas para atender o imediatismo dos clientes das gerações X e Y que estão vindo por aí, afinal são eles os futuros compradores. Isto inclui as empresas B2B. E, por último, este cenário permite aprimorar o desempenho dos processos internos, com menos pessoas e maior velocidade.

Diante de tudo isso, o que fica evidente é que a indústria 4.0, antes de tudo, é uma questão estratégica – por refletir o modo como a empresa “passará a pensar” e, assim sendo, não pode ser atribuída exclusivamente à direção de tecnologia das organizações e ao emprego da IOT, por exemplo. Temos aí uma transformação muito mais do que digital. Ainda há muito que evoluir.
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(*) O autor é superintendente de TI da Termomecanica.

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