Nióbio pode ser aplicado também no combate a vírus e bactérias
Já fartamente empregado em baterias de carros elétricos, turbinas de aviões, sondas especiais, estruturas de pontes e edifícios, tubulações de gás e componentes eletrônicos, o nióbio, pelo visto, tende a ser também usado na medicina para além dos aparelhos de ressonância magnética e instrumentos de marcapasso – outras de seu aparentemente inesgotável leque de utilizações.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão pesquisando agora o uso do nióbiopara combater vírus e bactérias e, também, para criar um fungicida à base desse que é considerado o mineral do futuro.
Esses estudos começaram a partir de uma descoberta acidental do laboratório de química da universidade. Ao desenvolverem um gel clareador dental com nanopartículas de nióbio, os pesquisadores do laboratório constataram que, além de clarear os dentes, o produto matava as bactérias que causam a cárie.
A partir daí, desenvolver a pesquisa por esta via foi um passo. E parece que ela está chegando a um ótimo termo. Os pesquisadores já desenvolveram um spray pediátrico eficaz contra os vírus que causam a herpes e a hepatite, e até para combater o vírus da Covid. Este produto já foi, inclusive, aprovado pela Anvisa e vai ser produzido por uma empresa do interior de Minas Gerais em escala comercial.
A pesquisa começou a avançar também por outro caminho. Se essas nanopartículas de nióbio são eficazes contra vírus e bactérias, será que não seriam também contra fungos? Se sim, será que poderiam ser usadas em plantações, substituindo alguns tipos de agrotóxicos? Os pesquisadores começaram a investigar essa hipótese e os resultados são igualmente bastante promissores.
Já foram desenvolvidos três fungicidas que estão sendo testados por quatro empresas de defensivos agrícolas, três delas multinacionais. O projeto também tem parceria com uma startup de Belo Horizonte, a capital de Minas.
“Os produtos apresentam baixíssima toxicidade, tanto para planta – já que eles não são fitotóxicos – como para as pessoas, sejam elas os que vão aplicar os fungicidas no campo, ou aquelas que vão ingerir aquele alimento no pós-colheita”, explica Cintia de Castro Oliveira, professora do Departamento de Química da UFMG, segundo quem a universidade estuda uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para aprofundar as pesquisas.
Para a equipe da UFMG, os fungicidas podem dar origem a uma nova classe de produtos baseados na tecnologia do nióbio, o que seria outra importante inovação que a agricultura brasileira ofereceria para o mundo.
CÂNCER – A UFMG também vem pesquisando há algum tempo o uso do nióbio para tratamento de certos tipos de câncer.Uma das rotas de pesquisa do grupo é o desenvolvimento de um fármaco à base do óxido de nióbio, que é extraído do mineral pirocloro. Com base em mudanças químicas nesse minério usado em ligas metálicas, o laboratório conseguiu obter uma molécula que tem ação anticâncer.
O grupo descobriu que é possível transformar o óxido em um cluster, ou oligômero, com a propriedade de gerar espécies de oxigênio que tendem a se ligar a células que estejam crescendo desordenadamente, a exemplo das tumorais. Nelas, os oxigênios são liberados, impedindo os processos de respiração celular e de multiplicação. É a chamada oxidação in situ.
Evidências geradas por um mapeamento químico feito pela equipe da Faculdade de Farmácia da UFMG dão conta de que essas moléculas de oxigênio formadas com a estrutura que contém nióbio vão, preferencialmente, para as células tumorais, com o que essa seletividade tornaria o fármaco menos tóxico para o paciente, uma vez que atacaria em primeira instância a célula cancerígena.
Projetado inicialmente para uso intravenoso, o composto também foi desenvolvido em forma de gel para uso tópico. Nesse caso, o fármaco de nióbio, que é muito ativo e seletivo, é ligado quimicamente a um colágeno (pele sintética) e, ao cobrir uma ferida, pode ser liberado lentamente, de forma controlada, tendo também um efeito estético.
Com intermediação da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG, a equipe já está buscando empresas interessadas para a transferência dessa tecnologia, que pode revolucionar o tratamento do câncer.
Diga-se que não é casual essas pesquisas com o nióbio na área médica estarem sendo desenvolvidas em Minas Gerais. O Brasil é o maior detentor do minério em todo o mundo – cerca de 90% das reservas de nióbio do planeta estão em terras brasileiras, e quase tudo em Minas, e um pouco em Goiás. O país também é responsável pela maior fatia de comercialização desse metal.
O nióbio é encontrado em minérios, como a columbita e a tantalita, diferentemente de outros elementos encontrados de forma abundante na natureza. Identificado nesses minerais na forma do isótopo estável 93 Nb, o nióbio, no entanto, já está presente em pelo menos outros 28 radioisótopos já sintetizados, com os mais diferentes volumes de massa. (Alberto Mawakdiye)